segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Conferência Solitária II - Bibliotecas Online, livre acesso

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http://ebooks.nypl.org/FF2AAF2A-B4CB-4BB8-8F20-95F773642037/10/257/en/Default.htm

The New York Public Library

http://www.bartleby.com/

inclui
The Harvard Classics
The Shelf of Fiction

Conferência Solitária I - Studium Generale

Esta conferência dedica-se a registar o meu objectivo e plano de estudo na condição de autodidacta, enquanto não ingresso na universidade (e quiçá mesmo depois dela).
Chamo-lhe Studium Generale, o nome dado às universidades medievais, na convicção de que este método e plano é pouco qualificado/preparado, de acordo com o que diria o sistema, o ensino oficial. É, pois, algo primitivo, medieval ; na escolha dos temas e áreas, principalmente.
Mas que importa isso ? Alguém, para além de mim, se interessa ? Alguém iria ler estas palavras, para examinar esta conferência, para a qualificar, categorizar, no seu núcleo de interesses ? Faço tudo isto para mim, no doloroso prazer da solidão, da satisfação de que posso mandar às malvas quem eu quiser e quando quiser. O Studium Generale é uma das gratificações que tenho em realizar que estou só.
Eis pois as matérias que o compõem :

- Latim
- Alemão
- Problemas de Xadrez
- Música (Guitarra Clássica)
- Desenho
- Programa "Grandes Livros" ( do Cânone Ocidental )

No que diz respeito a avaliação/examinação, há formas de aferir a progressão na aquisição dos conteúdos. Há livros para isso, com provas e as respectivas soluções ; creio que há exames online ; há escolas onde me matricular ; e finalmente - no que toca à Música e ao Desenho, intuitivamente e por ouvido saberei se a coisa está ou não bem feita.

(continua)

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Bazar de textos III - Blues/Fado do Alcoólico

1
Eu era um alcoólico
Não era nada que se veja
A vida era ingovernável
A namorada era a cerveja

REFRÃO :
Sim, eu era um alcoólico
Sem auto-estima nem lisonja
Perdi um emprego fixe
Porque bebia como uma esponja

2
A mulher disse-me um dia
Isto vai acabar mal
Vou-me embora com os putos,
Tu vais parar ao hospital

REFRÃO :
Sim, eu era um alcoólico
Sem auto-estima nem lisonja
Perdi um emprego fixe
Porque bebia como uma esponja

3
Numa noite d´insanidade
Era tão grande a bebedeira
Dei com a tromba no passeio
E parti a cremalheira

REFRÃO :
Sim, eu era um alcoólico
Sem auto-estima nem lisonja
Perdi um emprego fixe
Porque bebia como uma esponja

4
Até eu fiquei cansado
De me vomitar e partir todo
Não posso voltar ao copo
Porque assim é que me fodo

REFRÃO :
Sim, eu era um alcoólico (OH YEAH)
Sem auto-estima nem lisonja
Perdi um emprego fixe
Porque bebia como uma esponja

5
Comecei a ir às salas
Daquela irmandade
Até conheci umas chavalas
Redescobri a felicidade

REFRÃO :
Sim, eu era um alcoólico
Sem auto-estima nem lisonja
Perdi um emprego fixe
Porque bebia como uma esponja


Poesia X : Minerva me enerva

Ei-los tão bem alinhados
Soldados numa parada
De sabedoria ou nada
E de muitas cores fardados
Em vários discursos lentes,
Eles olham com a frieza
Tão própria da proeza
De fazer-nos sapientes

À noite, às vezes pergunto
Talvez estejam a falar
Bem poderiam partilhar
Qualquer que fosse o assunto
Em palavras parecidas,
Talvez um dia a sonhar
Veja livros a conversar
De maravilhas escondidas

Picando com sua lança
A deusa como louca ri
Pelos livros que nunca li
E deixo-me ir na dança

Poesia IX : Luar de Cemitério

Sei de um jardim palacial
Onde no meio da vereda
Ouves o fru-fru da seda
De um fantasma glacial
Beleza,misteriosa
Eis a mulher de cristal,
Pr´á lém do bem e do mal
É negra a sua rosa

 É frio o nevoeiro
Que permeia o labirinto
Viro no quarto ou no quinto?
Ou será no derradeiro?
Num rir sobrenatural,
Diz-me que em todo o frio
É Orfeu que eu recrio
Que tudo vai acabar mal

Era fútil a caçada
De facto assim acontece
Nada é o que parece
E tudo acab´em nada

Bazar de Textos II - Um Dia Daqueles

Jorge detestava muitas coisas, e uma delas era ananás nas pizzas.
"Como é que possível que haja pessoas que gostam mesmo daquilo", registou este vosso repórter quando o visitou no Estabelecimento Prisional de Lisboa, conhecido no mundo do crime, e no nosso, como E.P.L. numa fria tarde de Novembro do mês passado.
"Jorge", comecei assim a entrevista, pelo seu nome, "como veio parar a este síio horrível ?"
"Bem, é uma longa estória..."
"Você só conta o que quiser.."
"Sem dúvida, mas não quero ser "profilizado" desta maneira tão vil...E tenho mais uma exigência a fazer. O interesse é seu, eu estou em posição de fazer as exigências que me apetecer. Você é a minha puta neste momento, aqui & agora."
"Espero que me pague"
"Sim, fique descansado. O que quero é um tabuleiro de xadrez. Enquanto temos tempo..."
Falámos de tudo. Do tempo, de futebol, de carros, mas de mulheres não muito. Ele estava bem informado acerca de temas da actualidade, sabia de tudo pela internet. Era lá que tinha os seus amigos, este pobre diabo, era através do Facebook que exercia ao máximo uma personalidade que era muito sua e que poucos, aparentemente, queriam realmente conhecer. Não trabalhava, acreditava ser uma victima do sistema. Odiava pessoas paranóicas, mas não se reconhecendo a si mesmo como uma. Rapaz de estrictos costumes, espartano nos hábitos, não o reconheceríamos nem nos lembraríamos dele no Metro, tal como ninguém se apercebeu exactamente quando ele entrou na pizzaria com uma navalha tipo "borboleta" na mão.Para ele, foi apenas um daqueles dias."

JN, 2012

Poesia VIII : Celebração da intempérie - à memória de Henri-Desiré Landru e Jack, o Estripador

Celebração da intempérie
És um assassino em série
Disse bem a tua tia,és um zero a poesia.
Concordata na camarata 
Temporal na tua moral,
Foste o Monstro do Cadaval.
O teu almoço era um osso
Uma Ema era um problema.
Constipação no coração,
Melancolia é fantasia,
E a dor tanto purifica
Os Crimes da Estrada de Benfica.
Odiaste o fru-fru
Extraías almas pelo cú
Estrangulavas na Alameda
Com uma meia de seda
Sem nenhum arrependimento,
Tempestade e Sentimento,
Culpado é o frango assado.

10 de Março de 2011

Poesia VII : A Coroação de Galatea

Passos curtos,atrevidos
Escutei e lá estavas
De falar não precisavas
De carinhos prometidos
Entreguei-me,com devoção,
A tua causa com fervor
Estátua olha teu autor
Senti-me um Pigmalião

Tentei um templo erigir
Acendi paus de incenso
Mas foi de luar intenso
O que fiz p´ra te exprimir
Só contigo é que sei voar
Princesa,iremos fugir
E nunca mais chorar,só rir
No nosso mundo exemplar


Não tens nome nem idade
Na tua doce companhia.
Sem ti eu não viveria
P´ra toda a eternidade

15 de Março de 2011

Poesia VI : Danças Com Deusas

Doce armadilha que seduz
Sem uma palavra dizer,
Senhora serás do meu ser
Para que veja a tua luz.
Para ti eu me desnudo
De sentidos apurados,
Em teus tons apaixonados,
De repente entendo tudo

Rios de tinta podem correr
Sobre a tua epifania
Mas ninguém entenderia
O que o amor pode esconder.
Sem disfarçar o meu tremor,
Tuas carícias invoco
De joelhos me coloco
Pra receber o teu amor


À deriva,no teu enlace
De todo o coração sou teu
Vou alcançar o apogeu
Para que vença,não fracasse

15 de Março de 2011

Poesia V : Salmacis

No teu corpo, uma cascata
Teu cabelo, corredio
Depois, na tua pele de prata,
Um sopro, um arrepio
Tua formosura quase mata,
A minha alma, por um fio.
E entraste nos aposentos
Dos meus simples sentimentos.
.
Secaste o corpo na cama
Com a febril gentileza
De quem não apaga a chama
Da visão da tua beleza.
Não troces pois de quem te ama
Com tanto orgulho e pobreza.
E ostentas, de fina veste,
A sedução que prometeste.
.
A minha mão é assim tua
E do teu templo sou pilar
Para pelas eras suportar
A ninfa banhando-se nua.
JN/2012

Poesia IV : Ser Selvagem

Teu antílope eu serei
Tu serás minha gazela
Pinta-me na tua tela
Cores que não esquecerei
Cinza, preto e cor do mel
Nos castanhos da savana
O teu amor não engana
Está colado à minha pele
Nem sempre é evidente
Mas o amor nos fundiu
Para sempre nos uniu
Pintado a reluzente
É estilete a tua ausência
Que meu coração trespassa
Vou mostrar a minha raça
Por amor à transparência
É pungente o formigueiro
Da tua antecipação
Iremos pois de mão em mão
Conquistar o Mundo inteiro!

Bazar de textos I - Algumas reflexões para uma democracia deliberativa popular de salvação nacional

Os partidos com assento parlamentar, os mesmos que controllam o poder legislativo, o Estado e a administração pública, devem ser banidos d´a actividade política e as relações entre elles e os agentes económicos deverão ser revistas, reformuladas, e as suspeitas de mal-practica deverão ser investigadas por entidades pessoais & colectivas insuspeitas e isemptas.
Deveria ser dada aos restantes partidos d´o espectro político nacional a possibilidade de criar uma plataforma de entendimento baseada n´o mínimo denominador commum da antítese d´aquilo que tem sido feito até agora na vida e n´a arte da governação. A sua ausência das estructuras d´o poder seria o garante d´a sua oportunidade, perante a qual se obrigariam a um voto e compromisso de honra de dedicação única e exclusiva à boa e justa governação d´o País.
Uma outra alternativa seria a devolução imediata d´o poder deliberativo à Nação, directamente, através d´a instituição de assembleias/camaras deliberativas populares ao nível d´a freguesia e da câmara municipal por meio d´a democracia directa e p´lo consenso, retendo a administração central o poder executivo conferido de baixo para cima, p´los representantes directos e mais próximos d´o povo, p´la sua affirmação – de que jamais abdicaria d´o poder de questionar de forma incisiva e directa as acções d´os seus eleitos.
Um orgão consultivo composto precisamente d´essas entidades pessoais e colectivas insuspeitas e isemptas actuaria como conselho de peritos n´as diversas áreas d´a governação, auscultando todos os sectores d´a sociedade. Poderia ser dada a alguns políticos arrependidos a chance de collaborar com o projecto de salvação nacional, em troca do salário mínimo nacional, em áreas technicas especificas. As despesas d´os orgãos publicos seriam sujeitas a rigoroso scrutinio por parte d´as camaras deliberativas populares a ellas afectas.
Um plebiscito deveria ser realizado, dando à Nação a escolha entre o retorno à Monarchia Constitucional, ou permanência n´a república - mas desta vez com uma presidência colegial de 3 elementos em mandatos de 3 anos. Seria vital que a presidência, a ser sustida, não mais voltasse a ser ocupada por um indivíduo, e muito menos por um político de carreira. Monarcha, ou presidência colectiva, actuariam activamente, como árbitros em disputas entre as instituições.
A opção da regionalização/federalização do país seria de novo colocada n´a mesa, apesar de a história e tradição nacionais serem marcadamente municipalistas ; p´lo que outra opção passaria pela instituição de um parlamento constituído p´los representantes de todas as autarchias d´o país, com peso institucional igual entre si. D´esta forma, da base para o topo, todos os portuguezes estariam representados. O voto seria obrigatorio.
Todas os direitos, liberdades e garantias actualmente existentes seriam preservados. Mas as centrais sindicais teriam que ser extirpadas d´as suas conotações partidárias actualmente existentes. Não sendo retirado ao povo o direito de associação profissional, obviamente, mas a ideia seria des-politizar as relações entre classes, assim eliminando ou reduzindo ao máximo os conflictos entre ellas.

Oração I - Nas palavras dos outros

Paire nostre que siés dins lou cèu, 
que toun noum se santifique, 
que toun Règne nous avèngue, 
que ta volonta se fague sus la terro coume dins lou cèu. 
Douno nous vuei noste pan de cade jour, 
perdouno nous nòsti dèute coume nous autre perdounan à nòsti debitour. 
E fai que toumben pas dins la tentacioun, mai deliéuro nous dóu mau. 
Que soun tiéu: lou Règne, lou Poudé e la Glòri, aro e pèr l'eternita. 
Amen

Reflexões, 4 - As palavras dos outros

Ouço um árabe a falar e penso : só Allah sabe o que ele está a dizer.

Reflexões, 3 - Palavras antigas, palavras novas

Notícia TVI24 :
"Touradas perdem espetadores"

Dia histórico. Pela primeira vez, vejo o chamado novo acordo ortográfico a fazer algum sentido.

Bazar de textos I - Confissões de Uma Victima de Bullying Heterophobico

Percebi que era victima de Bullying Heterofóbico praí aos meus 14 anos, quando comecei a deixar crescer o bigode. Uns rapazes um pouco mais velhos do que eu riam-se ao olhar pra mim mas não eu não percebia porquê e ria com eles. "Eh, macho man", era como eles se referiam a mim. Perguntei ao meu pai que esteve na Guerra o que queria dizer aquilo e ele respondia-me "Caga nisso, Zé Manel, anda mas é fazer a barba e beber umas bejecas."Depois comecei a usar t-shirts de alças para realçar os músculos que tinha ganho a trabalhar nas obras no Verão, e...bem, eu gosto de moçoilas, daquelas em idade casadoira que o Sô Padre me disse para eu não olhar, e reparei que elas também olhavam para mim, mas o tal grupito de rapazes não me largava...diziam-me tipo : "És mesmo ridículo, pá ! Anda cá, ó Stallone ! Gostas é de mamas, não é ?? Palhaço ! Vai mas é pró ginásio, ó garanhão ! Quantas é que já comeste hoje? Ahaha ! Vai um bagacinho ?"E aquilo a modos que me revoltava...
Um belo dia estava no bar lá da colectividade a jogar snuker e coçar a tomatada entre cada tacada, como o meu pai me disse pra eu fazer que elas gostam, com os botões da camisa desabotoados e o meu medalhão da loja do chinês a brilhar ao peito, e passaram eles num BMW todo catita a fazerem-me gestos obechenos porque sabiam que o meu pai me tinha levado às putas, e faziam troça de mim outra vez..."Olha-me só o gajo, pá ! Parece um homem das cavernas...a gente ia jogar mas já não vamos porque o fedor de testosterona não se aguenta...pff...Olha lá, e quantas é que apalpaste na fila pra entrar pró Estádio da Luz, ó fodilhão ?" e pimba, eu não fui de modas, arrebentei-lhes a cremalheira toda. O que vale é que o meu padrinho e o chefe da esquadra tinham andado nos Fuzileiros e desenrascaram-me da cena.E prontos, sôra dotora psicóloga, foi assim...e deixe que lhe diga, vossemecê é cá uma potranca, que se eu fosse o touro de cobrição do meu tio Silvino nem sabe o que lhe fazia...

Reflexões, 2 - Livros & Línguas

Dos livros que tenho, um dos que mais gosto intitula-se "Symbolen van de Inka, Maya en Azteken", que comprei em Bruxelas em Janeiro de 2008. Em Holandês, que não falo nem leio, àcerca da linguagem escrita dos Maias e dos Aztecas, que pouquíssimos sábios conhecem - e mal.
E porque me fascina tanto um livro que não sou capaz de ler ? Precisamente porque não percebo nada do que lá está escrito ; folhei-o com o assombro do desconhecido ; como uma criança ; como um analfabeto - que quando não sabe ler vê os bonecos, com agravante de que não faço a mínima idéia do que os bonecos significam. Ponho-me a imaginar o que eles me estarão a querer dizer, pego nos símbolos, e invento uma língua completamente nova, sem palavras, para os percursos e coisas comuns do do dia-a-dia.
Porque nunca poderemos saber tudo, mantenho-o assim : numa atitude de pasmo e deslumbre com o desconhecido, para preservar o Mistério, sensação que nos falta em tempos de tanta ciência e certezas sobre tudo...

Verdades Universais II

Desconfia de uma planta carnívora que se tenha tornado vegetariana.

Raimundo Vilanova Cabral

Verdades Universais I

Uma dos inconvenientes de deixar se de beber é o de que as mulheres deixam de ser todas bonitas.

Princípios de Monte Cristologia, por Raimundo Vilanova Cabral

« " - Olhe, desculpe...estas batatas estão mal cozidas.
- É claro que estão bem cozidas, não seja parvo.
- Você está a chamar-me parvo ? Você sabe com quem está a falar ?
- Sim, sei que estou a falar com alguém que, além de parvo, é surdo.
- Oh, que afronta ! Meu caro senhor, não lhe admito que me fale desta maneira!
E assim cliente e empregado de restaurante, cheios de aprumo e dignidade, se atacaram de garfo em riste."

Já alguma vez V. assistiu a uma cena destas ? É claro que não, porque desde a proibição dos duelos que a vida em sociedade perdeu uma certa piada. Como ensina Alexandre Dumas em "O Conde de Monte Cristo", o duelo é a melhor forma de resolver disputas. Andar à porrada é a diplomacia entre pessoas, mas por outros meios. Desde do séc. XIX que se vem assistindo à secularização da sociedade, aboliram-se monarquias, democratizou-se o Mundo, as condições de vida foram melhoradas, e ser portador de uma arma agora já não é uma coisa tão bem vista (excepto nos E.U.A.) qualquer um pode contratar um advogado para litigar (principalmente nos E.U.A.) - com grande malefício para a resolução de problemas mais ou menos graves, desde a mais mesquinha querela à mais infame calúnia.
A violência, como medida inter-individual de intervir no controlo populacional, foi retirada ao povo." »

Raimundo V. Cabral
in
"PRINCÍPIOS DE MONTECRISTOLOGIA - A Arte e/ou Ciência Para Explicação do Homem, do Mundo, do Universo e do que mais houver"

Poesia III : "Laura"

"LAURA"

Disse que não gosto mais de ti
Enterrei-me num caixão de veludo
Não há mais abraços
Peguei num bisturi, 
e cortei os laços
Despedi-me de tudo. 
Escrevi uma carta
Para que fique, ou para que parta,
Fiquei cego, surdo e mudo,
Por mais não te ver
Nem te rasgar nem te comer, fiquei sem fome
Foi-se embora aquela que me consome.
Só estão meus olhos nos teus
Não sei qual a amada razão
Porque não te posso dar a mão,
Essa, Amor, só a sabe Deus.
Anseio o regresso
Da que pegou na taça e tomou, com calma
O sumo e seiva que me corre na veia
Acaba, vá!, é tudo o que peço
Disse que bebia tudo mas bebeu só meia.
Mata já a minha chama impura
Faz o que tens a fazer, enterra a adaga
Jurei-te, por amor, seres a minha tortura
Agora, p´los deuses, tenho a minha paga.

Reflexões, 1 - Os Nomes das Coisas

Chamar Maometanismo ao Islão. 
Cool.
Chamar América Portuguesa ao Brasil. 
Cool.
Recordar "Ilhas Adjacentes" quando se fala das Regiões Autónomas. 
Cool.
E recuso-me a chamar "Roma" aos Ciganos , não vá por engano confundi-los com a outra grande Civilização que tem o mesmo nome.

Poesia II : "Raiva"

Meu Deus, como te odeio!
A maneira fragmentada,
A malícia do Nada
Com que me mandas pr´o meio!
Choro, de fino recorte
Como...um aristocrata,
A quem vais roubar a prata
E abandonas-me à sorte,
Que não tenho. E pondero,
Porque será nas coisas pequenas
Em excertos de cenas
Que me tiras o que quero!
Maldita sorte, que despeito!
De minha alma torcida,
Assim me vais roubando a vida,
Nada poupas, vais a eito!
Esperneio, espumo, grito ;
Levanta-me o feitiço,
Devolve-me já o viço
Perdido, ainda pequenito!
A Fortuna foi perdida ;
Queres também a inocência ?
Não mostras complacência,
Sem olhar e sem medida!
Maldita, que desejas mais,
Que tanto de mim troças ?
Queres que ande p´las poças ?
Que se me rompam os estais,
Que ande por aí sem mapa,
Marinheiro sem um rumo,
Que perca também o aprumo,
Como um livro sem capa ?
Tu levas-me à loucura ;
Sim, eu desejo matar-te,
Com as minhas mãos, esganar-te
E dançar na tua sepultura!
Sim, e depois vou celebrar,
Ébrio de poder e glória,
A tua distante memória ;
Até demónios vou convidar!
E o  maior deles sou eu
Que vejo num reflexo
Sem cor, forma ou nexo
Entre o Inferno e o Céu.
JN/2013

Poesia de Combate I - Os Velhos

Anestesia-se a velhinha com balelas e tricas
Bate palmas a novelas e manhãs "dos maricas"
Velhinha tratada como trouxa
Com injecção de Baião, Cláudio e Goucha ;
É a nação da velhinha, frágil e pequenininha
Da velhinha no recato, do periquito do cão e do gato,
Dona-de-casa, da novela, da vida do rico,
Da Bárbara, do Carrilho, do sarilho, do mexerico,
Do trapo pendurado no estendal enferrujado,
Da revista na sala de quem espera e desespera,
Da bengala, da muleta, da canadiana,
Da cartomante que nunca se engana,
Do sapato cambado, do comprimido datado,
Do roubo por esticão, do velho caído no chão,
Do filho que esqueceu o pai,
Do velho no lugar reservado,
Que recorda o passado mas se esqueceu p´ra onde vai.

Verga com sacos a pobre velha,
Da planta de plástico que não engelha,
Velhinhas, velhinhas, sentem o dó
Fala avó com outra avó 
para não se sentir só,
Do colar de pérolas amarelecidas
das vidas,
De coisas concretas, do casamento das netas,
Da mercearia lá da rua, da gentileza que se perdeu,
Da Dona Maria, "Não sabia? Morreu"
Do ceguinho que tacteia, do Lulu que se passeia,
Meu querido marido que Deus tem,
Aos Domingos Missa e pastel de Belém,
Da conta da luz,
esquecida, antiga,
"Lá tem a sua vida!" o neto que não liga,
Da conversa na padaria por companhia,
Do chá, do pão, da sopa de agrião,
Das três alianças, de ouro e de prata,
Da operação à catarata,
Velhinha, morre aos poucos de solidão,
Com o seu cão
Velhinha da trela, da telenovela,
Da nova placa da Dona Fernanda,
Do elevador que há muito não anda,
Da pensão roubada na juventude esgotada,
Ela só quer um carinho, quem vá ao hospital,
Dá-te mais um par de meias p´lo Natal
Mas não faz mal.
Não não não e não,
É de partir o coração, é cruel pecado
Deixar abandonados,
ultrapassados, os velhos,
Porque sobem devagar as escadas
Porque lhe doem os joelhos,
Porque se queixa de pequenos nadas,
sem motivo
porque ainda está vivo, que contrariedade
Pesaroso. pesaroso, caminha vagaroso
O esquecido velho da cidade.

Poesia I : A Campainha

A CAMPAINHA

A campainha toca, toca e fujo
Mas não é brincadeira de criança
Conheço os rumores da vizinhança !
Que vivo só com os meus livros belos
Que passo o dia de chinelos,
Que sou um tipo solitário
Que tenho esqueletos no armário
Que sou um homem reservado
Que ando sempre calado
Que só oiço música antiga
Nunca me viram com uma rapariga
Que baixo o olhar
Quando alguma me vem falar
Que gosto delas bonitas
Que espio lolitas
Fico cheio de calores quando oiço tais rumores

A campainha toca toca, na porta da minha toca
Fico silencioso como um rato,
vem aí outro chato.
Chego-me ao peitoril, o coração a mil
A campainha toca e eu retoco
Aquela expressão estudada de surpresa,
Deve ser a Dona Teresa,
A reclamar os dois meses de renda
Ou um chato daqueles da venda
De livros por catálogo,
não há quem entenda
Que fujo ao diálogo
Sou um tipo que não presta.
Espreito pela fresta,
Tomado de terror, deve ser algum credor,
Deve ser a polícia
- de alguma esquadra,
Será algum antigo amor
A Patrícia !
A reclamar as aguarelas
Que vendi na Feira da Ladra,
A guinchar antigas querelas
Sim, vejo o mundo por janelas, por um quadro
No meu metro quadrado, em clausura
Mas não é loucura, loucos são vocês,
Tocam à campainha outra e outra vez,
Deixem-me sozinho,
No meu cantinho, na minha torre de menagem,
Por favor deixe mensagem

Toca a campainha com insistência, que insolência
Em pèzinhos de lã, desço a escada
Na esperança vã de que não se oiça nada ;
Paro subitamente quando range um degrau
Foda-se, isto é mau
Não me atrevo a acender a luz para fugir ao truz-truz,
Sustenho a respiração
Espero não ser traído p´lo bater do coração.

Seja quem for não desiste, persiste
Agora fala com porteira, que eu odeio
"Vou deixar na caixa de correio"
Maldita velha, imagino-me a matá-la
Com as minhas mãos, esganá-la
Mãos à volta do pescoço
E torço, torço, torço
Mato-lhe também o gato, outro chato

Não soltava um pio...
Mas agora rio, rio, rio
Com uma alegria que estravaza
E oiço de novo o Chato a falar
"Afinal está alguém em casa!"
E a campainha volta, volta, volta a tocar.

As Conferências Solitárias

Bem vindo às Conferências Solitárias

Os meus escritos não têm tido a divulgação que, merecida ou não, eu lhes pretendo dar - por isso criei esta página para recordar os textos que já publiquei em redes sociais, os que os meus familiares já tiveram a infelicidade de me ouvir declamar, os que ando a enviar a editoras, e finalmente para dar ao mundo simultaneamente um guia e linhas de desorientação com as quais se desinquietar.
Como o nome indica, este espaço é o meu templo de solidão ; destina-se a ser uma (re) colecção de textos de formato e extensão diversos - poesia, crónica, meditações avulsas, anotações diversas, flash fiction, excerptos de contos escritos e por escrever, memórias e auxiliares de memória, orações, manifestos de ciências imaginárias como por exemplo a Monte Cristologia, e outros monumentos à sabedoria e ao disparate.
Não leia, leia, comente, sugira leituras, proponha alterações. Faça o que quiser dentro dos limites do respeito e da cortesia próprios dos humildes cidadãos da República das Letras.

Obrigado

Lisboa, 15 de Novembro do Anno da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2013