segunda-feira, 7 de julho de 2014

REFLEXÕES 15 : SOBRE O "ACORDO" ORTOGRÁFICO

ALEGRE E INQUESTIONAVELMENTE Ontem requisitei um livro numa biblioteca e hoje devolvi-o como se me sujasse as mãos. Estava escrito em acordês, e para mim foi uma decessão (se é assim que querem que se pronuncie, que seja assim que se escreve). Sou um católico simples, sem conhecimentos de exorcismo, o que é pena porque gostaria de saber que tipo de possessão demoníaca levou os pais fundadores do "Acordo" a conceber tamanho bastardo, que querem elevar à condição de verdadeiro e único filho legítimo. Pergunto a mim mesmo em quem se terá inspirado o criador deste monstro de Frankenstein linguístico. Provavelmente no comandante do Titanic, e depois na banda do navio que continuava a tocar no meio da tragédia. Peguei no dito livro e senti uma profunda pena, pegar num texto em acordês é como reencontrar na rua um velho amigo que foi amputado desnecessariamente por um médico charlatão que tenha estudado medicina com um curandeiro africano. Faz-me lembrar o laboratório de biologia do meu velho liceu, onde havia um frasco que tinha dentro um gato com duas cabeças : ficas com a sensação que por alguma malfadada intervenção do destino, algo correu mal e tens uma aberração. Aliás, o "acordo" ortográfico podia perfeitamente ser colocado num freak show, ao lado da Mulher-de-Barba e do Homem-Lagosta. E por falar em gatos, há dois tipos de pessoas em quem eu jamais confiaria para deixar o meu gato durante as férias : negadores do Holocausto e pessoas que aceitam alegre e inquestionavelmente o "Acordo". Não gosto de pessoas que, perante atrocidades, dizem que estão apenas a cumprir ordens. Dizer que o "Acordo" é bom português é como pôr o autor do quadro "O Menino da Lágrima" como director da Academia Nacional de Belas-Artes. Não gosto de gente que em vez de pegar no que é vil e tornar-lo ouro, faz o contrário sem pestanejar. Devolver livros em "Acordês" pode não mudar o mundo, mas não seria a primeira vez que a resistência vence sobre a banalização do mal, e do erro.

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