Uma (re)colecção de textos de formato e extensão diversos - poesia, crónica, meditações avulsas, anotações diversas, flash fiction, excerptos de contos escritos e por escrever, memórias e auxiliares de memória, orações, manifestos de ciências imaginárias como por exemplo a Monte Cristologia, e outros exemplos de sabedoria e disparate.
quarta-feira, 11 de junho de 2014
Poesia XVI : MANUAL DE SUICÍDIO PARA POETAS E COMPOSITORES DEPRIMIDOS
Enforcam-se em árvores os sonhadores
Incapazes de criar os poemas seus filhos
Como se fossem programados empecilhos
Suados numa qualquer Ilha dos Amores.
Buscam unicórnios onde há dragões,
E murmuram litanias a plenos pulmões
Descascam os seus monstros de camadas de fé
Constroem barcas p´ra navegar nas funduras
E, nem hesitando em cometer loucuras,
Inventam bestas para se chamarem Noé.
Voam, imaculados, largando fuligem
Abraçam o Caos e amam a vertigem.
Gulosos, deixam-se ir na macabra dança
São infelizes, não controlam os espasmos
Compõem sonetos a que chamam orgasmos
Para prazer de todos, mas...na sua pança.
Vacilam, sábios, entre Azul e Vermelho,
Fogem-lhes certezas em tocas de coelho.
São filósofos em busca de Um Limite
Mergulhando de cabeça em sinfonias
E, erguendo muralhas de apatias,
Vão até onde a inspiração permite.
E acolhendo, patetas, fados ausentes,
Vão temendo os deuses que lhes dão presentes.
Sentam-se, amados, no sonho que engana
Limpam a nódoa que têm na gravata
Bebem sangue da poesia que os mata
Louvam a bosta e rejeitam a filigrana.
Odeiam, solenes, a vida inteira
Mas sabem, no fundo, que não há outra maneira.
Planam, como detritos, na brisa passada
São masturbadores que prolongam momentos.
Porque têm que terminar os sentimentos,
Se o bom da Demanda é não ser acabada ?
E no fim caem, como as pétalas da Rosa,
Com um copo de cólera, ou numa margem arenosa.
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