Uma (re)colecção de textos de formato e extensão diversos - poesia, crónica, meditações avulsas, anotações diversas, flash fiction, excerptos de contos escritos e por escrever, memórias e auxiliares de memória, orações, manifestos de ciências imaginárias como por exemplo a Monte Cristologia, e outros exemplos de sabedoria e disparate.
sábado, 21 de dezembro de 2013
Conto à maneira de Italo Calvino : As Cidades das Falésias
É difícil chegar à cidade de Balyshia, mas é bastante fácil e gratificante observá-la a partir de si mesma quando a olhamos reflectida no lago sobreo qual ela se precipita. Na verdade, as perspectivas de Balyshia dependem do ponto de vista do visitante, pois é uma cidade composta de miradouros sobrepostos. Construída em fragas e penhascos, os seus habitantes vivem e traficam em estreitíssimas cornijas o que faz com que as suas existências tenham altitude e horizontalidade mas não largueza na direcção dos seus afazeres diários, daí que os seus habitantes sejam conhecidos pela sua elegância ; a cidade é conhecida por ser berço dos mais conhecidos top models e jogadores de basketball. O facto de viverem, estudarem, comerem e fazerem amor em perigosos parapeitos leva a intermináveis disputas de espaço, tornando os habitantes de Balyshia pessoas nervosas e altamente competitivas. Raramente dormem deitados, com o mortal medo de rolar para o abismo durante o sono, fazendo com que durmam de pé e assim sejam irritáveis ao extremo. É uma cidade que nunca dorme, e uma sociedade sem sonhos, ou de sonhos permanentemente interrompidos. As relações entre as pessoas são sempre tensas e de cortar à faca, sendo elevadíssima a taxa de criminalidade violenta. A circunstância de se poder subir e descer, apenas, faz com que seja facílimo mudar de classe social, não sendo ainda assim uma sociedade sem classes mas uma sociedade de mobilidades sociais ascendente e descendente em perpétua mutação. Assim, nesta cidade, e apesar das tensões, o respeito pelo vizinho de baixo é sagrado e nunca ninguém despeja nada, dizendo "Água vai!". O respeito já não é o mesmo entre as pessoas enquanto vivem no mesmo estreito patamar, o que faz com a classe média de Balyshia às vezes pareça uma escola de gladiadores ; por falta de espaço, as pessoas vivem em filas intermináveis, como formigas, o que é causador de tensão e ansiedade e sensação de falta de futuro. Os habitantes destes exíguos socalcos ou se afrontam ou vivem de costas voltadas. Há famílias muito unidas que de repente se tornam desavindas, conforme a lei da necessidade do aproveitamento do espaço em cada determinado momento ou direcção ; duelistas, de costas voltadas, encontram-se subitamente face-a-face, encostam as suas armas ao peito de adversário mas não disparam para que nenhum deles caia ; gémeos siameses são obrigados a seguir caminhos opostos e viver em movimentos de 180º leva a que governos sejam depostos em simples movimentações da populaça e há reis de territórios de 5 polegadas quadradas durante cinco minutos ou cinco anos. De todos os vassalos de V. Majestade, são estes os que Vos pagam os mais avultados tributos ou as mais esquálidas esmolas ; se dependesses deles, tu, Kublai, serias imperador e escravo da sua lei, a da gravidade da história dos povos. Até tu, soberano, és um mero imponderável ; se és uma muralha ou colossal estátua ou apenas um grão de pó, quem sabe ?
Reflexões, 7 - Sobre a vivência da fé
1 - O meu templo pessoal é feito de várias pedras diferentes, e a maior e mais importante é o espírito de discernimento que Deus me deu ; mas sem as tristezas e amarguras, as paredes desse templo teriam buracos nas paredes. É vital aprender a integrar tudo, a ver as coisas como um todo a caminho de algo melhor - que ainda está para vir. Tudo é importante para a harmonia do conjunto.
2 - Todas as coisas e acontecimentos estão encadeados e em sentido comum, cada um no seu tempo e lugar. O successo e o desejo têm o seu tempo, o futuro e o agora actuam num abraço que não deixa de me pertencer e que é cada vez mais terno e progressivo.
3 - Que a minha regra de vida a combinação justa e equilibrada do que compõe a vida passada, presente e futura. O "sim" deve incluir alguns "nãos" bem discernidos, que representam o repúdio da hipocrisia e um acto de honestidade humilde.
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
Testemunhos de Fé, 2 - Mensagens e Sinais Inesperados
Na passada Segunda-Feira recebi uma notícia que me desanimou bastante, na altura, e esse desânimo prolongou-se até ontem, Sexta. Recebi o contracto da Chiado Editora na leitura do qual fiquei a saber que teria que pagar a pronto os 150 exemplares que me caberiam pagar ; ou, então, pagar a prestações com cheques pré-datados. Acontece que eu não tenho conta bancária. Logo, não tenho cheques. E, dado a minha credibilidade estar no esgoto (já para não falar na minha vida financeira), a publicação do meu romance ficou adiada sabe Deus para quando.
Fiquei acabrunhado, amaldiçoei a minha sorte pela enésima vez ; cada vez que me olho ao espelho e penso nas más circunstâncias e escolhas que tenho trazido para a minha vida, faço a mim mesmo um gesto feio - todos os dedos da mão fechados excepto o do meio. Detesto a minha vida e o que tenho feito dela. E assim fiquei, incapaz de afastar a negatividade que me ofereço de bandeja ; parece que que me comprazo nela, procuro em tudo motivo para a alimentar ; acho "todas as pessoas" feias, e as que não acho fico com inveja da sua beleza ; invejo a sorte e a esperteza dos outros, que não se colocaram no lamaçal em que me afundei.
Mais tarde, na reunião (na verdade, depois dela)a coisa ficou pior ; ir jantar com amigos que me pagam o jantar...para mim é algo quase intolerável. Só fui à reunião, e ao jantar, porque me conheço e sei que mais tarde a minha consciência iria atormentar-me por ter escolhido a opção errada. Parece que, faça o que fizer, fico sempre a perder.
Não havia - naquela altura - espaço no meu coração para compreender e aceitar as coisas como gesto de amor ; bem o sei, mas quando o meu coração está assim, encerrado, parece um bloco de gelo. Ninguém imagina o esforço moral que eu tenho que fazer para me obrigar a baixar a cabeça e ir em frente com o que tem que ser feito. Eu SEI o que está certo, nesses momentos, e forço-me a tomar as atitudes dolorosas. E lá fui, arrastado na minha tristeza, para o jantar ; conheci a namorada de um colega que me disse que não era grandemente de lamentar que o livro não tivesse sido publicado, não neste altura, e não da maneira como o teria sido. Eu bem sei que as coisas acontecem quando têm que acontecer ; ruminei este pensamento, aceitei um presente (sem nada contribuir, mais uma dor de alma para mim)e no fim do jantar, no momento dos beijos e abraços de despedidas, dei-lhes a saber, de peito aberto, o enorme a preço e estima que tenho por eles.
E agora vem a segunda parte de "as coisas acontecem quando têm que acontecer", e que remete para o Testemunho de Fé I.
Ontem à tarde, antes da missa das 19h, eu tinha estado na Biblioteca dos Olivais. Como habitualmente, perco imenso tempo a escolher livros. Normalmente escolho três (é o máximo que se pode requisitar) de temas/áreas diferentes : o livro de assunto sério/educativo ; um livro de prosa ou poesia, um clássico ou de autor de referência ; e um livro para distrair, que aborde um assunto de "chacha" que não me obrigue a pensar muito. Estando à volta das prateleiras dos livros de temas religiosos e de catolicismo, saltou-me à vista "Medjugorje : A Mensagem", de um autor dos E.U.A. chamado Wayne Weible. Não conhecia bem este tema, das aparições marianas de Medjugorje ; mas comecei a ler o livro à noite, depois do jantar, na cama, e digo que este livro - esta mensagem - apareceu na altura certa ; o autor, um jornalista protestante, começou a escrevê-lo a poucas semanas do Natal, com o propósito de satisfazer o seu público com um tema apropriado à quadra e...converteu-se. A sua experiência, a sua história, o seu testemunho estão narrados de maneira simples, directa e tocante, sem floreados. Era mesmo aquilo que eu estava a precisar de ler, nesta altura em que não conseguia libertar-me das garras do negativismo.
As coisas acontecem quando têm que acontecer, porque Deus conhece as nossas vidas e necessidades ainda antes de nós ; Deus Nosso Senhor tem um plano para cada um de nós, e nós só temos é que ter o coração e a alma abertos e receptivos. Depois, tudo se encaixa.
E, para culminar, hoje recebi uma oferta de emprego do Centro de Emprego ! Deus seja louvado !
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo ; como era no princípio, agora e sempre,
Amen.
Testemunhos de Fé, 1 - Meu Irmão Gato
15/06/2013
O ano passado fiz os Exercícios Espirituais de Sto. Inácio de Loyola na Casa da Torre, centro cultural e de retiros da Companhia de Jesus, perto de Braga, durante a Semana Santa. Bem à maneira inaciana, prometi defender aqueles que não podem defender-se a si próprios - os fracos, os doentes, os idosos, as crianças, os oprimidos, as vítimas da injustiça.
E hoje vivi um pequeno milagre. Costumo ir à missa das 19 horas à Igreja da Luz, no Largo da Luz, em Lisboa. Quando chego adiantado, pego no meu livro e fumo um cigarro. Foi o caso de hoje. Enquanto lia, vi um gatinho de uns 2/3 meses a andar com dificuldade rumo a um canto do adro da Igreja. Condoído, não o perdi de vista. Qual não foi o meu espanto quando vi o bichano a entrar para dentro da igreja !
O pequeno felino não passou das pesadas portas de madeira daquela igreja do séc. XVI. Enfiou-se no estreito espaço entre a porta e a grossa parede de pedra, e lá ficou, fraco e cansado, escondido o mais ao fundo que lhe foi possível. Fiquei a observá-lo até ter que entrar para participar na santa Eucaristia.Mal ouvi a homilia. Passei o tempo todo a orar, a pedir a Jesus Cristo Nosso Senhor, e p´la intercessão de São Francisco de Assis, para que aquele pequeno irmãozinho fosse ajudado. Que os nossos corações fossem inspirados e preenchidos de Amor, a fim de que uma vida inocente fosse salva - porque todos somos criaturas de Deus.Costumo ficar sempre mais uns minutos depois do fim. Mas hoje não. Voltei logo para a porta da igreja, onde o pobrezinho ainda se quedava. E comecei imediatamente a interpelar as pessoas, em busca de uma solução para o problema que era o gatinho. Finalmente alguém sentiu a compaixão que eu estava tão esforçadamente a querer passar. Uma senhora conduziu-me à sacristia, e ela própria conduziu a conversa. O sacristão disse-me que o gatinho tinha que ser colocado de volta na rua.Senti o sangue a ferver-me nas veias. Disse-lhe que isso não era muito franciscano da parte deles, e que, apesar de não ter condições de acolher o animal, eu mesmo o faria. E ele lá me deu uma caixa de cartão, talvez a melhor morada que o meu novo amigo peludo jamais tivera...E dei comigo na paragem de autocarro, falando com ele e com os meus botões : E agora, o que é que eu faço ? Vivo numa moradia, numa vivenda, é um facto, mas só ocupo um quarto...telefonei à minha senhoria que, fazendo jus à classe e ao grande coração que tem, me autorizou a alimentá-lo lá, e construir um abrigo no jardim. Pedi conselho à minha irmã Patrícia, que por sua vez se disponibilizou a ficar com o gato, apesar de o seu apartamento não ser grande e já ter também uma gata, até o pequenote recuperar forças, crescer, e ser autónomo e eu poder acolher-lo.
Ainda não sei o sexo do animal, mas chamei-lhe Chico : em honra do Papa Francisco, e do grande Santo cujo nome escolheu. Deus seja louvado, pois peço mais Fé e as minhas preces são escutadas !
20/12/2013 - ACTUALIZAÇÃO
Efectivamente levei o gatinho para casa da minha irmã, que tratou dele com o amor e o carinho com que trata todos os animais ; e a minha sobrinha Beatriz, na altura com 5 anos, deu ao bichano o nome de Kikas.
Ele acabou por morrer, não muito tempo depois, e fiquei tristíssimo com a perda. Sepultei-o num jardim, perto de onde ele havia vivido os seus últimos dias. Pensei que talvez ele tivesse ido para o Céu, para alegrar um menino que precisava da sua companhia. Mas nunca mais esqueci esse sinal, essa manifestação do amor de Deus.
Pensamentos dispersos
- O programa político d´A COMPANHIA IMPROVÁVEL é muito simples : destruir todas as formas e manifestações da partidocracia que têm atrofiado a Nação e Pátria. Exorcizar os edifícios das sedes partidárias, ou mesmo queimá-los, demoli-los, e deitar sal no terreno para que nada lá volte a crescer. Criar campos para a reabilitação e reeducação de políticos profissionais. Os resistentes seriam asfixiados com os estatutos do seu próprio partido. A sociedade portuguesa tem que ser purgada de políticos profissionais.
- Decidi mudar de rumo, de vida profissional. Vou ensinar autodidactas a aprender por si mesmos.
- Um empreendedor é uma pessoa que não tem mais que fazer.
- Ouço um árabe a falar e penso, só Allah sabe o que ele está a dizer.
- Eu tenho uma filosofia de vida. Só me falta ter uma vida.
sábado, 14 de dezembro de 2013
Oração II - nas palavras dos outros
Te saludi, Maria, de gràcia plena,
Lo Senhor es amé tu,
Benesida siás entre tótei lei femnas e benesit lo fruch dau vèntre tieu Jèsus.
Santa Maria, Maire de Dieu, prèga pèr nàutrei, lei pecadors, ara e dins l’ora de la mòrt nòstra.
Ansin siá.
Pare nostre del cel,
santifica el teu nom,
vingui el teu Regne,
que es faci la teva voluntat aquí a la terra com es fa en el cel.
Dóna'ns avui el nostre pa de cada dia;
perdona les nostres ofenses, així com nosaltres perdonem els qui ens ofenen;
no permetis que caiguem en la temptació, i allibera'ns del mal.
Bazar de textos V - Confissões de Uma Victima de Bullying Heterofóbico
Percebi que era victima de Bullying Heterofóbico praí aos meus 14 anos, quando comecei a deixar crescer o bigode. Uns rapazes um pouco mais velhos do que eu riam-se ao olhar pra mim mas não eu não percebia porquê e ria com eles. "Eh, macho man", era como eles se referiam a mim. Perguntei ao meu pai que esteve na Guerra o que queria dizer aquilo e ele respondia-me "Caga nisso, Zé Manel, anda mas é fazer a barba e beber umas bejecas."Depois comecei a usar t-shirts de alças para realçar os músculos que tinha ganho a trabalhar nas obras no Verão, e...bem, eu gosto de moçoilas, daquelas em idade casadoira que o Sô Padre me disse para eu não olhar, e reparei que elas também olhavam para mim, mas o tal grupito de rapazes não me largava...diziam-me tipo : "És mesmo ridículo, pá ! Anda cá, ó Stallone ! Gostas é de mamas, não é ?? Palhaço ! Vai mas é pró ginásio, ó garanhão ! Quantas é que já comeste hoje? Ahaha ! Vai um bagacinho ?"E aquilo a modos que me revoltava...
Um belo dia estava no bar lá da colectividade a jogar snuker e coçar a tomatada entre cada tacada, como o meu pai me disse pra eu fazer que elas gostam, com os botões da camisa desabotoados e o meu medalhão da loja do chinês a brilhar ao peito, e passaram eles num BMW todo catita a fazerem-me gestos obechenos porque sabiam que o meu pai me tinha levado às putas, e faziam troça de mim outra vez..."Olha-me só o gajo, pá ! Parece um homem das cavernas...a gente ia jogar mas já não vamos porque o fedor de testosterona não se aguenta...pff...Olha lá, e quantas é que apalpaste na fila pra entrar pró Estádio da Luz, ó fodilhão ?" e pimba, eu não fui de modas, arrebentei-lhes a cremalheira toda. O que vale é que o meu padrinho e o chefe da esquadra tinham andado nos Fuzileiros e desenrascaram-me da cena.E prontos, sôra dotora psicóloga, foi assim...e deixe que lhe diga, vossemecê é cá uma potranca, que se eu fosse o touro de cobrição do meu tio Silvino nem sabe o que lhe fazia...
Bazar de textos VI - Os Discordíadas ( as primeiras 3 estrofes do Canto I )
OS DISCORDÍADAS
(as primeiras 3 estrofes do Canto I, publicadas no grupo Em AcÇão contra o Acordo Ortográfico, do Facebook)
por João El Desdichado Nobre
"1
Em As Letras, e tantos comentários,
Aqui me guarneço, de vós, nesta malha
Muitos, distintos correligionários,
A quem a memória da língua não falha
E que de muitos destinos sois vários,
E daí verei a sorte que me calha.
Nobre arruinado sou mas não mordo,
Excepto quando vejo o Mau Acordo.
2
Abracei este grupo, de nome Acção,
Juro defender os Agás, os Cês & Pês
Mais de catorze mil, já somos Legião,
Junte-se a nós pois quem diz ser Português.
Nossa língua mátria não tem patrão,
E a ninguém compete dizer como lês ;
Que A Musa ajude, na epopeia
A guerra Lusa contra a torpe Leya.
3
Quem defronta a infausta Academia,
E os seus inconcebíveis desconchavos,
Sofrerá abusos, e a tirania ;
Nem será imune a todos os agravos
Terá que suportar a cacofonia,
De quem dá na ferradura e nos cravos.
Mas será veloz rastilho que estoura
O Império do Mal, a Porto Editora !"
Citações
//"É uma coisa notável que os principais actores da Revolução Francesa tinham aspecto repugnante, desde a colossal fealdade de Mirabeau e Danton, ou a vil ferocidade do semblante de David e Simon, até ao asqueroso desmazelo de Marat e à sinistra e biliosa baixeza de feições de Robespierre."
Sir Edward Bulwer-Lytton,
"Zanoni"
//"With great power comes great responsability."
Ben Parker, tio do Peter Parker, o Homem-Aranha
Sem nenhum poder, faz aquilo que te apetecer.
El Desdichado
//“Emperor Joseph II:
My dear young man, don't take it too hard. Your work is ingenious. It's quality work. And there are simply too many notes, that's all. Just cut a few and it will be perfect.
Mozart:
Which few did you have in mind, Majesty?”
Peter Shaffer,
"Amadeus"
//"That´s right, asshole. Shit happens."
Lt. Harrigan (Danny Glover) quando mata o Predador em duelo,
em "Predator 2", 1990
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
Contos do ciclo "Os Animais" - III
POMBO
Ouvi a conversa que o moço de estrebaria estava a ter o cavalo e pensei "Eh pá, conversas de revolução e liberdade, deixa-me te diga...as coisas não são bem como se contam...és um cavalo velho e asas para voar tenho-as eu, não és propriamente um Pégaso".
Liberdade e revolução testemunhei-as eu, o pombo da praça onde se arregimentaram milícias de empregados de comércio que escrevem poesia nas horas vagas e senhores de colete e chapéu de coco, e tropas mal organizadas e voluntários e sargentos de província, bem intencionados, formados em valores vagos e carbonários, resfolegando palavras de ordem que leram em panfletos impressos em tipografias a vapor de onde saíam para o grémio onde se penduravam como morcegos depois da ginginha no Rossio ; vi muitos cavalheiros desses, de jasmim na lapela, a namoriscar a sopeira que depois regressava em desgraça a Cinfães do Douro onde o seu pai se arrastava aos pés do prior para que este não condenasse ao Inferno a pobre moça desmanchada ; também escutei a banda a tocar no coreto enquanto olhava o oficial de monóculo e pingalim de braço dado à piedosa esposa que ansiava por voltar à novena a Nossa Senhora e ao alegre chá cheio de caridade e brandy na chávena, e ao cordial antes de adormecer no seu quarto abafado onde se sufoca de interiores victorianos e decadência fin-de-siècle ; nesse quarto que onde se suspira gravuras indecentes que se escondem à pressa sob os lençóis, para serem sublimadas pelo romance pudorado. As senhoras dão as suas ordens à sopeira que namora à janela com o mordomo do comendador que anseia ser ministro e Par do Reino do Rei que já não governa mas ainda reina num reino de imaginação e naus da Carreira da Índia, vestido de mantos de arminho em palácios neo-clássicos e albergues onde a rainha é a cólera e a disenteria ; acenando para a ralé que o acarinha mas também acarinha o sonho de um dia ter sapatos e ter no prato não uma mas três sardinhas descarregadas da fragata que é a nave da loucura que é fazermo-nos ao mar.
Assim os vi e os recordo todos quando passaram pelos meus olhos ; felizmente os meus olhos tenho-os um de um lado e o outro do outro lado da cabeça, para poder ver o que quero e o que não quero, assim posso dizer que não fecho os olhos à verdade...vejo tudo isto, agora que como as migalhas do pão que o Diabo amassou, partilhadas e lançadas pela velhinna perneta com a sua sacola de chita gasta e esburacada, e pelo submisso amanuense ali sentado, de nó de gravata tão desfeito como o seu espírito acabrunhado pelo insucesso e pelas esperanças carimbadas com o selo do desespero, pela mulher dominadora, pelo chefe da repartição a quem um dia, alcoolizado, dirá todas as verdades antes de se lançar da ponte que conduz a muitos destinos mas a ele para uma viagem sem regresso.
Tal como eu, hoje um pombo cheio de parasitas e tuberculoso, levantarei vôo pela última vez e pousarei na mão direita do Cristo-Rei que me transformará numa pomba carregando no bico um ramo de oliveira. Ao contrário do que se possa dizer, os pombos não são ratos com asas. Ratos são os outros. Como eu fui.
RATO
Esfrego o focinho na antecipação, e as mãos de contente, quando constato que se fez silêncio e posso sair do meu buraco perfurado na parede velha, verdadeira alfândega e entreposto onde acumulamos algodão sujo e cotão em ninhos de papel de jornal e revista cor-de-rosa de onde retiramos verdadeiros exemplos de vida e conduta...por isso é que se diz "procriar como ratos" ; rasgamos belas imagens de raparigas que aspiraram a top model mas tiveram que se contentar com o catálogo de venda de roupa; lemos, divertidos, antes de hibernar de papo cheio de comida roubada da despensa de um novo rico qualquer ;e dançamos e cantamos e rimos que nem uns loucos pelas putas e pelas disputas do mundo acima do nosso mundo subterrâneo, onde as pessoas se louvam umas às outras em actos de heroísmo solidário e se criam santos seculares ao sabor de uns instântaneos de canal de TV noticioso e da foto do dia, e em clicks e likes infantilizados de rede social, prenhes de fotos de bolos de aniversário impossíveis e adoráveis bébés louros de olho azul e gatinhos de calendário com um barrete de Pai Natal ; não conseguimos deixar de rir, com tantas boas intenções, de boas intenções está o Inferno cheio...
O mundo é um sítio estúpido, instável e insano excepto para o Rato, esperto e cheio de coragem planeada em planos conjurados em porões e sótãos onde alimentamos a nossa audácia em velhas arcas de recordações que agora não interessam a ninguém e de fotografias de meninos vestidos de menina, de cabelos encaracolados a ferro quente, e meninos sempre vestidos de marinheiro, montados em cavalos de pau ; exercitamos os nossos movimentos em vigas carcomidas por térmitas ; enfiamos a cabeça para entre os ombros, e o chapéu fedora encobre o nosso rosto longo e afilado ; puxamos para cima a gola da gabardina cinzenta e espreitamos o sono sem sonhos do bêbedo caído no chão imundo, do sem-abrigo tapado por cartão velho e sujo ; partimos para os cantos e recantos e esquinas mal iluminadas de becos e vielas onde espiamos os males do mundo de que nos aproveitamos de modo interesseiro, mundo esse que pode até ruir...mas o rato sobreviverá, porque o rato abandona sempre o navio antes dele se afundar. Sonhamos com o dia em que O Rato emergirá, para liderar uma nova ordem mundial, seremos a nova espécie dominante.
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
Contos do ciclo "Os Animais" - II
GAIVOTA
Já vos contei de quando sonhei que era uma gaivota ? Era uma gaivota no meio de outras gaivotas, vogando patetica e preguiçosamente em águas paradas e oleosas de uma doca onde se acumulam destroços de embarcações enventradas e ferrugentas, povoadas de fantasmas de viagens passadas e marinheiros desdentados, tatuados nos braços com sereias mal desenhadas em portos onde estivadores carregam o pão de uns e o vício de outros, parecendo uma fila de formigas, numa labuta cujo fim calha no fundo de um copo mal lavado.
Alçámos vôo na esteira de uma traineira, à espera das entranhas de peixes que não souberam escapar a tempo do bloqueio de redes onde por negligência também se afogaram as filhas de Neptuno ; o mar fede de espuma vermelha e vísceras de peixe e o prémio das gaivotas ainda mal começou ; depois voámos em bando para a lixeira da cidade e mergulhámos os bicos nesse campo pestilento de vaidades, juncado de monturos de desperdícios da sociedade ; separamos habilmente restos de comida de caixas de brinquedos, e são travadas lutas de poder por um pedaço de carne putrefacta rejeitada até pelas ratazanas, esses seres sensíveis sempre presentes nas desgraças de um mundo que eu também rejeito filosoficamente quando dejecto na cabeça da estátua de um rei do século XVIII. Esgravatei, indolentemente, até ouvir falar a cabeça de peixe que tinha dentro da barriga.
PEIXE
Enquanto peixe - antes de ser cozido e posto no prato de um menino doente, esmagado por presentes e beijos de tias trintonas, redondas de bolo de aniversário lá do escritório onde ano após ano se compete pelas férias o mais exóticas possível - enquanto peixe, nadava em cardumes em que somos iguais e indistinctos, à procura de peixes mais pequenos e fugimos de peixes maiores que nós, de que nos refugiamos em latas e pneus velhos deitados ao mar, e outras vezes em corais corroídos pelo zinco de um couraçado que se afundou arrastando consigo centenas de homens na sua última batalha ; venho à superfície e vejo mulheres e filhos e namoradas agitando lenços e lançando à água coroas de flores, entretecidas pelas namoradas que daqui a um ano já namoram outro ; navego por esse jardim fluctuante e leio os cartões antes que se dilua a tinta, e o que leio depois repito-o aos mortos lá em baixo e eles juram regressar para abraçar as mulheres e oferecer-lhes colares de pérolas e grinaldas de algas e crucifixos feitos de dente de narval, em uníssono cantando canções do mar e da terra. E uma dessas canções falava de um burro.
BURRO
Sendo burro, administrava sabiamente as recriminações escritas numa ficha por um tiranete que me vergastava por não gostar das mensagens de amor que recebia da filha do moleiro, que sentia por ele um amor não retribuído ; ele preferia espiar os rapazinhos à saída da escola onde eles aprendem as primeiras letras e palavras escritas em pedra ; a alguns deles chamam burros e esses vêm ter comigo pedindo que eu lhes diga o que é ser burro e como são as coisas na República dos Burros ; e eu abro com os dentes sacos de verdade bem moída e refinada, que espalho em mesas improvisadas e circunstanciais, em lições que se prolongam pela noite fora em procissões de vela acesa à floresta, onde entoamos coros em que os pequenos se tornam grandes e os humildes são exaltados longe das dictaduras das coisas bem arrumadinhas nos armários fechados dos que escondem temores inconfessáveis, incompatíveis com a justiça e a verdade pura e fresca dos prados verdejantes onde este e outros burros são finalmente livres e onde pulula toda a espécie de criaturas, por exemplo gafanhotos. E eu fui um deles.
GAFANHOTO
Foi nesse prado que nasci como gafanhoto, e lá fui feliz antes de uma catástrofe natural nos haver forçado a causar outra. Reunimo-nos todos no parlamento dos gafanhotos e decidimos, num acto de desespero, iniciar uma praga bíblica ; e assim vi civilizações dizimadas e povos inteiros a fugir em direcção ao mar e às montanhas no topo das quais residem os seus deuses, severos e inacessíveis. Levado por um capricho de curiosidade insaciável, agarrei-me com as minhas poderosas garras de gafanhoto aos andrajos imundos de um dos muitos infelizes cuja desgraça causei, e subi, assim escondido, ao cume da montanha onde os deuses, reunidos em magna assembleia, faziam um intervalo para o café ; uma deusa queixava-se que tinha um buraco na meia e outro, aborrecido, afiava lápis nos dentes de um dragão adormecido com discursos motivacionais da treta e relatórios de contas redigidos por escribas formados em Gestão em academias de mestres cegos que declamavam poesia nas aulas enquanto se babavam com torrões de terra que mastigam sem convicção ; e os deuses admoestaram as gentes pela sua falta de fé, que apontavam em gráficos e estatísticas em que nem eles mesmos acreditam ; mas insistiam que sim, que o mundo é belo e a vida vale a pena ser vivida, e que todos os males do mundo passariam, serão erradicados e esmagados como quem esmaga um insecto. Ora eu, um insecto, não gostei do que ouvi e saltei dali para fora. Saltei, e noutra criatura saltante me vi.
CANGURU
A paisagem era seca e eu, o canguru, vi as minhas crias a jogar na bolsa, apostando vidas futuras e chocalhos de cascavel com que afastam enguiços e espíritos da noite, de que ouvem falar em lendas contadas pelos velhos sábios da tribo à qual roubamos fruta que eles apanham em esforços mal recompensados ; temos o hábito de, por despeito, rejeitar pelo traseiro os caroços na estrada poeirenta na esperança de que de repente nasçam árvores que provoquem acidentes de viação ; declarámos guerra à espécie humana que nos rouba direitos e cerceia a esperança de construir um novo mundo nem melhor nem pior, mas o nosso ; onde queremos árvores onde nos possamos dependurar, mascar tabaco e cuspir na cabeça do vizinho de baixo, e relaxar enquanto falamos das vidas uns dos outros ; onde possamos criar os rebentos de bétula que gostamos de roer enquanto observamos o pôr-do-sol ; onde falamos sobre como será glorioso o futuro assim que chegar o nosso rei, regressado de uma batalha onde pereceu há séculos ; em que satirizamos mordazmente as cólicas e os calos da vizinha, que tem um bébé que não se cala depois de ouvir falar impostores elevados à categoria de profetas das comunidades de quem defraudam o cofre de esmolas, o azeite das lamparinas e o vinho da comunhão. O dia-a-dia de um canguru é feito de bisbilhotices e de jornais gratuitos deixados no autocarro depois de passarem por mãos sebosas e mãos com cunhas de gel de meio metro, perfumadas de cremes baratos e esperma brotado de sexo de apaziguamento após uma violenta discussão doméstica ; sexo na cama de onde foi enxotado o gato que, indignado, saltou janela fora e contou a sua estória.
GATO
Uma das vantagens de se ser gato é que nunca nos enganamos. Fazemos juízos e avaliações tão acertados, que um dia destes fui convidado para integrar um estudo dedicado à perseguição de filhos e netos de antigos nazis refugiados na Argentina, criado por um grupo de trabalho que crê que os filhos devem pagar os erros e as dívidas dos pais ; vesti uma camisa de marca, um casaco, pus uma gravata, e ocupei o meu lugar à cabeceira de uma mesa à roda da qual estavam reunidas as mentes brilhantes, assistidas por assessores e competentes secretárias, todas de cabelo apanhado num carrapito ; a semelhança é o preço da eficiência, nestes meios.
Alisei os bigodes com a pata dianteira e propus o meu projecto, repleto de ideias e estratégias brilhantes, com recursos tão variados como infiltrar ratos telecomandados nas paredes e caves das instalações do inimigo ; esmagá-los com uma avalancha de latas de comida para gato quando eles saem pela porta das traseiras do hotelzito barato onde se encontram com a amante ; esfrangalhar os seus nervos com imperativos categóricos miados à capela, em dó maior ; arruinar os seus sofás tipo Moviflor com as garras que afiamos cruelmente nas pedras da calçada.
O meu plano foi aprovado por unanimidade, recebi uma reforma dourada e o título de Rei dos Quintais de Buenos Aires, à beira dos quais olho preguiçosamente para os cavalos que passam. Saltei para o dorso de um, e de repente ele era eu.
CAVALO
Puxava uma caleche de turistas que sorriam estupidamente, eu!, que fui uma glória das corridas e um garanhão pai de cavalos que figuraram em touradas e épicos de Hollywood; rompi fileiras de infantaria em memoráveis cargas de cavalaria em que se cobriram de heroísmo jovens tenentes franceses por quem suspiravam as debutantes do reino ; elas soltavam risadinhas e gritinhos e trocavam entre si bilhetinhos nos intervalos das lições de piano e geografia, onde aprendiam os nomes dos locais distantes e quentes que precisavam de saber, onde iriam assumir o seu lugar de senhoras tirânicas ou santas, depois de desposarem burgueses e mercadores untuosos que assim financiariam a sua casta nobre as arruinada por pestes e revoluções de populaça ranhosa e descalça, inspirada por amigos do povo incorruptíveis e sanguinários com um fantástico e oportuníssimo sentido de História. Eu, o cavalo, nutri com o meu estrume os campos de onde se alimentaram as gentes que depois me conduziram a esta ignominiosa servidão e ao tédio mortal ; enxoto com a minha cauda moscas que reencarnarão em homens poderosos e martelo com os cascos como tambores de uma marcha de imbecilidades e freaks tornados os novos povos eleitos ; os meus óculos de sola não tornam mais estreitas as minhas vistas do que as daqueles homens e mulheres que supostamente têm olhos e mentes livres, abertas mas tapadas num cocktail de orgulho e arrogância de onde fede a bosta que têm dentro do crânio e à qual chamam cérebro ; bebem-na em bebedeiras de ciência e frascos de laboratório e saber ruminado em pasta de papel ; e é com suprema indiferença que recebo palmadas de agradecimento, excepto as do rapaz de estrebaria vesgo que bem me trata e acarinha ; eu sinto e sei que somos amigos e ele abraça-me e senta-se num fardo de palha, vira o boné para trás e diz-me que em breve iremos fugir, depois me soltar e lançar ao chão coberto de feno a beata que fuma. Uma nova vida, baptizada no fogo.
E, no parapeito da janela da estrebaria, escutei tudo isto quando era um pombo.
POMBO
(cont.)
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Contos do ciclo "Os Animais" - I
CÃO
"Furaram-me os tímpanos com o estilete da verdade seca, escreveram na minha pele runas do meu destino ainda por criar, esses sacerdotes cegos, de negro, ; fui lavado com vinho produzido por criaturas que regressam à terra ao amanhecer, e deitaram-me no altar esculpido na pedra mais antiga do Mundo ; bebi de uma taça rude e pesada, e mergulhei num semi-sono e semi-sonho em que fui extirpado e aliviado dos tentáculos em que me aprisiono e do bolbo com que semeio gotas de cristal por canteiros que pertencem a jardineiras não tão inocentes, e tornei-me um deles ; parecemos uma corrente de sangue negro fluindo pelas veias da terra e do tempo até que as montanhas sangrem e as malvas sequiosas suguem o visceral suco e gemam de deleite, enquanto se roçam nos rochedos, onde repousam as matilhas prontas para o saque do Verão ainda oculto na neblina. Vi-a, e escutei-a : com um volteio da sua capa, a sacerdotisa ergueu uma mão e ordenou o início do massacre e do festim, e um mar de gritos ecoou pela encosta descendo até às aldeias. Corri, com os meus irmãos mastins, pela encosta abaixo ; cães-de-guerra obedientes na valsa da fragmentação dos alicerces do bom e belo. Abri as fauces e não hesitei em engolir fontanários da água pura e doce dos dias de ingenuidade ; dispersei garras de ferro que a sacerdotisa nos deu naquela noite em Plutão, e saciei desejos imortais que não são meus até que se fez um silêncio sem tempo e sem espaço, medido por uma ampulheta em que os grãos de areia são planetas.
CORVO
Aí acordei no corpo de um corvo pousado no pináculo de uma igreja de província, observando o funeral de uma jovem bela e pálida que havia sido a pupila e concubina de um poço de amargura com duas pernas que marchavam sobre os corpos dos pequeninos vomitados dos portões negros de uma fábrica de desespero que jamais vê a luz do dia ; o seu negrume abafa qualquer paixão mas não todo o amor ; havia lugar para o amor às coisas que não correm bem, amor aos ciprestes bem aprumados em acres de musgo e pedra. Os que assistiam ao funeral degustaram a brancura da jovem pálida como um cogumelo mágico e entregaram-se a uma orgia em camas de mármore e almofadas de granito onde estão inscriptas mensagens curtas e simples, telegramas para o Além cujos destinatários são assim lembrados ; eu, o corvo, gritei os seus nomes numa litania mas não derramei lágrimas ; soltei as minhas penas negras, que formaram um véu sobre o rosto da pálida virgem loura, como quando a Lua tapa o Sol, e a orgia terminou com os gemidos da rainha -mãe satisfeita de ruminar os seus súbditos que a consolam de apetites gerados no seu seio inchado de desejos de proporções pré-históricas ; engole-os na sua caverna húmida e escura e regurgita-os para transformarem o mundo. Esvoacei dali para fora...fui caçado por quatrocentros falcões reais que me atordoaram, e caí num bosque.
JAVALI
Eu afocinhava pelos bosques em busca de trufas quando ouvi a trompa de caça e comecei a correr para fugir das lanças que me querem empalar, empunhadas em caçadas organizadas por um castelão louco e grosseiro, nascido da união maldita de um fauno e uma camponesa inculta como a terra triste e dura que a viu desfolhar amores perfeitos e imperfeitos depois de se banhar em riacos que lhe querem mal. Senti uma imensa dor final quando fui perfurado pela farpa do castelão - endurecida nas cinzas da forja do ferreiro de quem raptou a filha - guarnecida por cravos retirados do ferro de um cometa cuja queda formou nas suas florestas uma cratera que parecia um círculo do Inferno e dei comigo baptizado pelo fogo e pelo fumo, rodando num espeto, num carrossel de luz e calor onde me encontrava assar depois da caçada. às voltas, eu revirava os meus olhos inchados e fora das órbitas, olhava ora para o castelão, ora para a chaminé através da qual a Lua era um pontinho de luz ao fundo de um túnel virado para o Céu onde me eram prometidas conversas com caçadores celestes.
Foi-me retirada uma perna e fiquei manco, e essa perna foi levada para a pesada mesa de carvalho, de onde caíram gotas de gordura que formaram no chão letras e palavras que os cães lamberam para se nutrir de conhecimento ancestral, ditado por inteligências que esqueceram o próprio nome ; e nelas leram a profecia de um bando peludo tomando de assalto um castelo ; ouviram um imenso estrondo e com terror viram os meus irmãos javalis a irromper pelo salão, ao meu resgate. Queimado e magro, coxeei até ao castelão, comi-lhe a língua e tornei-me o primeiro da minha raça a falar.
Poesia XII : Diva
Outra noite de ti sonhei
No harém da imaginação
Vi-te na representação
E a mão que jamais beijei
Teu sobrolho, elegante
Pele de nívea textura
São sabedoria e loucura
Do teu velado amante
Minha dama e cortesã,
Casta rosa, branca pomba
És delírio que me assombra
Na luz fria da manhã.
Por ti cruzo desertos;
Desato todos os nós
Até que, estando sós,
Dou meus passos como certos.
E então, num gesto solene
Abençoados pelas fontes,
Correremos nús pelos montes,
E nosso amor será perene.
Não somos como os demais...
Forjados por um alquimista,
Na victória que o Amor conquista,
Morremos para ser imortais!
El Desdichado
11/12/13
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
Reflexões, 6 - Sentidos de liberdade
Um dia destes, conheci mais um cromo da nossa amada capital, que é rica neles.
No autocarro a caminho da Biblioteca Municipal dos Olivais, havia um homem que não só não se calava como falava àcerca de tudo e mais alguma coisa, ininterruptamente. O seu discurso tão depressa passava da palavra de ordem como para a vulgar profanidade. Saltava da crítica social para a observação profunda. Fazia retratos à la minute das pessoas que passavam. Citava. Reclamava direitos comuns a todos, e invectivava as potestades. À saída decidi conhecê-lo melhor.
Fiquei a saber que grava o que diz num gravador de jornalista, e colige tudo em ficheiros de audio. Artista da palavra, da spoken word, este auto-proclamado profeta de rua que mete conversa com toda a gente pareceu-me simples e feliz como um passarinho, sem quaisquer constrangimentos. Voava pelas palavras. Livre.
Reflexões, 5 - Diário de um menino doente
E assim me sento a escrever. Tudo e nada. Por razão nenhuma. Mas também por consolo e por amor a esta vida...um amor calmo e sereno de sofá e chá quente e roupão e chinelos, com o gato ao colo.
Sei que não sou particularmente esperto. Nem que escrevo com profundidade. Mas não faz mal. Estas listas de textos e palavras destinam-se mais a mim do que a mais alguém, e recreio-me nelas. Sei que são o resultado de uma visão da vida muito simples e íntima e pessoal, são como um pátio em que o Sol só brilha para mim, são como o diário de um menino doente (o que nunca deixei de ser). E por isso estou-me nas tintas para o facto de que ninguém as lê, pelo contrário, são flores que planto e rego neste jardim secreto.
Aprendi a amar o silêncio...a ausência de vozes que não sejam as minhas. Não consigo viver longe deste mundo ; melhor, desta comunidade fechada que surgiu em mim deste muito pequeno...
Ao longo da minha vida habituei-me ver-me encerrado no meu mundo. Lembro-me de tantas vezes que me refugiava nos meus pensamentos e fantasias, contra um mundo e contra uma vida que repudiava e odiava. Sentia-me e sinto-me violado por nem sempre conseguir combater pessoas e situações que me ofendem ; detesto a brutalidade e a vulgaridade ; detesto profundamente a invasão do meu tempo e dos meus pensamentos, de ver que o meu mundo interior é incompatível com o rumo das coisas.
Criei bonecos e brinquedos que só eu via, que podiam saltar e correr como eu às vezes não podia, que corrigiam injustiças...
O que é crescer ? Cresci como adulto, cresci pela dor, pelo sofrimento físico e por me ver incompreendido, nunca fui alimentado senão por mim próprio na minha alma. Cresci como espírito e cresci em sabedoria, cresci em maturidade...passei por muitas coisas que me edificaram, experiências de vida ou de morte, amor do Mar...toxicodependência e álcool ; amor apaixonado por uma mulher ; amor da minha família que adoro...cresci emocionalmente numa grande parte dorida da minha vida, numa viagem de descoberta sem fim ; tenho poucas mas boas amizades direccionadas na minha vivência da Fé ; tenho Deus e Jesus Cristo, meu Salvador, Comandante, Rei e amigo...mas sem nunca abdicar da minha vida interna de sonhos, de amor e fascínio pelo mistério e pela fantasia. Se quero incorporar na minha vida o crescimento fundacional que lhe permite ter uma infraestructura, por outro lado não, não quero crescer.
Quero manter e nutrir o meu mundo interior ; quero brincar e ser criança ; quero que a minha casa seja a minha casa e o meu oratório, sim, mas que seja o meu quarto de brinquedos. Que seja o meu refúgio onde me possa ocultar dos brutos e dos bullies e brincar, ser quem sou. Quero que seja a minha biblioteca e arca de tesouros, onde possa mergulhar e viver uma aventura que dure um fim-de-semana inteiro. Desejo realizar pequenas encenações e psicodramas em que me perca no personagem ; vou inventar caças ao tesouro, ao mistério, procurar um manuscrito perdido ; embrenhar-me na re-leitura dos meus diários ; ficar dentro de mim, no meu mundo próprio em que tudo é quente e confortável.
No meu mundo, em que co-existem três pessoas (eu, a Laura Borges e o Raimundo Vilanova Cabral), as coisas acontecem num tempo mágico sem tempo. Adoro estar só e em silêncio, mas não estou só nem em silêncio. Tenho os meus amigos ; o Raimundo, na sua proverbial impaciência e sobranceria, busca interesses elevados e a aristocrática companhia dos clássicos da literatura, e da poesia espanhola do Siglo de Oro, e da pintura e música barrocas ; Laura, por seu turno, gosta andar por casa vestida com roupas simples e confortáveis, estar na cozinha de roda dos seus chás, e ler estórias de mistério e clássicos de literatura escapista.
O meu mundo também tem espaço para aventuras e viagens mais exóticas e, porque não dizer, eróticas. Não é invulgar haver festas em que as pessoas celebram a amizade e o amor ; come-se, bebe-se, ouve-se música de não-pensar, e dança-se...e às vezes solta-se um dragão possante que possui os dançantes ; desde a minha dança guerreira até à dança bacante da Laura, atinge-se um estado de furor e euforia em que se libertam poderosas energias criadoras...e depois dessa tempestade vem um período de acalmia e de amor tranquilo, como um rio que ruge e depois adormece nos seus próprios movimentos.
Escrevo porque escrevo, escrevo para mim, para meditar e me comprazer...escrevo como um acto de amor auto-erótico, em que me consolo num amor forçado à solidão. A partir de uma cela de paredes invisíveis, por enquanto, mas de materiais finíssimos num futuro próximo e glorioso.
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Poesia XI : O Estandarte
Vela finíssima, ao vento
Testemunho te dou de amor
Meu estandarte e penhor,
Te ofereço o meu alento
Respiro o teu perfume
Doce e seco, de fruto
Outro amor eu não disputo
Só por ti sinto queixume
O teu calor, pelas manhãs
A carícia do teu abraço
Envolvem o meu espaço
De esperanças que não são vãs
Oh estandarte, és bandeira
Olha, chega um galeão
Viagem ao toque da mão
Da bailarina e feiticeira
Marchemos, Lindos, adiante
Em duas andas elevados
Três corações inflamados
Mas num só mastro rampante
Olhemos para lá das trevas
Firmes e hirtos, Companhia !
Outra candela alumia
As colunas em que te elevas
LISBOA, 9 de Dezembro de 2013
Carta de Raimundo - 1
Caro Manuel,
És um estúpido. É inadmissível o que fizeste e a situação em que te colocaste a ti e à Companhia Improvável. Conseguiste, em poucos dias, aniquilar um esforço de dez anos. DEZ. O teu carácter estroina e desleixado deitou por terra muitas esperanças e ambições.
Desculpa a dureza da introdução, mas é mesmo assim.
Conheces bem os nossos objectivos e acho muito bem que agora estejas a reconstruir o que sobrou, a apanhar os cacos de uma vida que estás a provar merece ser vivida. Espero que não te esqueças nunca daquilo que queremos e da mágoa que sentiste e sentes. Que sirva de exemplo para o futuro.
Tenta preservar o que tens : saúde que não é periclitante, a juventude de espírito, e o amor à Arte e à Literatura. Tu, eu e a Laura amamos o que é belo e de qualidade, estamos ansiosos para te ver a progredir na sensatez, que tu amadureças e que te guardes para o glorioso futuro que nos aguarda.
Não esmoreças. Tens à tua volta tantos exemplos de gente que não vacila na adversidade ! Lê, informa-te, reza, cumpre uma regra cristã simples e sólida, e verás que os teus esforços serão recompensados. Tens que ter uma paciência de santo, às vezes, mas é o preço a pagar. Tudo tem uma retribuição, e agarra-te a essa precisa esperança : a de que, se fizeste merda e estás a pagar, se por outro lado fores consistente na boa mudança então também poderás colher bons frutos do futuro próximo.
Coragem, nunca te esqueças do que és, do que já atingimos em conjunto, e dos doces dias que virão.
Abraço
R.
Lisboa, 9 de Dezembro de 2013
Ode à COMPANHIA IMPROVÁVEL
Numa manhã há muito distante
Num campo jovem e puro
Nasceu Laura, rampante ;
Ela com passo seguro
Ela era vela,
Ele era pau
Ambos caravela
E dois eram nau
Mas outro clamor profundo
De capa, e espada erguia
Assim surgia Raimundo
E seu esplendor se sentia.
A Vela, o Mastro e o Leme
Três mareantes em busca de Glória
Ninguém vacila, nenhum treme
Que a sua lenda passe à História
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
Conferência Solitária IV - Futuros livros, 2
Outra ideia que eu tive - esta particularmente brilhante - está relacionada com um livro que tenho intitulado "Symbolen van de Inka, Maya en Azteken". Em neerlandês, de que percebo cerca de duas palavras, àcerca de línguas/civilizações que poucos académicos dominam.
Desconheço o totalmente* o que lá está escrito, o que me fascina sobremaneira. Sinto-me como uma criança que, numa aventura, subiu ao sótão do avô e descobriu um livro mágico àcerca das viagens passadas dele. O mistério do desconhecido, numa era de certezas científicas sobre tudo, submerge-me...
E assim, não fazendo a mínima ideia do que lá está escrito - *ou muito pouco - pensei e porque não criar o meu próprio texto ? Porque não criar de raiz uma História para os Incas, Maias e Aztecas ? Criar uma nova língua dá muito trabalho, e eu não sou Tolkien ; é melhor pegar em nomes que já existem, criar variações deles ; consultar histórias genéricas destas civilizações, nada muito elaborado, algo de cultura geral ; e desenvolver novas lendas para eles, que nunca existiram até agora.
Conferência Solitária III - Futuros livros, 1
Ultimamente, não sei se só pela recente excitação de ir ser um autor publicado, mas também pela quantidade de livros que tenho lido, e livros àcerca de livros, tenho andado num frenesi literário. Componho projectos para os quais dificilmente terei tempo ; por circunstâncias tão diversas como vida e obrigações familiares, reuniões sociais, e estudo para o exame de História da Universidade Aberta. Mas tenho que os registar, ou pelo menos as intenções de os escrever, o que faço em papel e depois transcrevo para este excelente meio que são as Conferências Solitárias.
Devia ter elaborado esta página mais cedo. É mais do que uma página onde registo coisas e loisas da vida, é tudo isso. É um commonplace book, versão online ; é um diário ; é a versão ordinária do que é um blog ; é um jornal de ideias ; e por último mas não em último é o espaço do Estado-Nação da´A COMPANHIA IMPROVÁVEL, onde Laura e Raimundo escrevem e desenvolvem as suas próprias ideias àcerca de tudo e mais alguma coisa.
Voltando à vaca fria, aos projectos literários, tive algumas ideias principais :
Embarcando numa expedição de descoberta nos Archivos Imperiais, escreverei :
- Crónicas dos Imperadores : onde recorrerei aos Anais do Império e descreverei, em formato vinheta cronológica bemdesenvolvida, os principais e mais marcantes acontecimentos dos seus pontificados ;
- Relatos das missões históricas deste/a ou daquele/a Cavaleiro ou Dama ;
- Revolta dos Grendel e subsequente guerra civil ;
...a partir das quais poderei desenvolver subtramas dentro de cada uma...
Estes três tópicos/temas pertencem a um mundo que de repente se me abriu diante dos olhos. Tendo-o descobert, lentamente faço viagens de exploração ao seu interior, fiorde acima, cidade adentro ; posso virar uma esquina da cidade e dar tanto com uma larga avenida como com um beco ; posso deparar-me com escadas que sobem ou que descem ; há portas abertas e fechadas ; há a estrada que conduz ao Palácio e o seu Archivo, com as suas centenas de corredores e câmaras...
Até me perco nas minhas ideias,e, como alguém disse, as melhores estórias são as que estão por contar...!
Cartas de Laura - 1
Meu querido e mui amado Manuel,
Nem imaginas a felicidade com que recebi a notícia do objectivo de nos reunirmos os três no nosso próprio espaço, num cantinho do nosso contentamento ! Ah, como vai ser bom ! Vai ser o nosso paraíso na Terra ! Vamos ter as coisitas que queremos ! Vai ser encantador fazer planos, tirar medidas do espaço para o novo móvel ; comprar a caneca a condizer ; fazer a cama todos os dias...já me imagino lá em casa, a cozinhar uns petiscos para vocês, a receber-te à porta com uma chávena de chá fumegante em entardeceres outonais ; engomar os lenços de pescoço do Raimundo ao som da rádio ; pormos a conversa em dia após uma jornada de trabalho...
Vamos construir o nosso mundo ! Estou tão excitada, nem imaginas.
É claro que vamos ter que ter uma férrea disciplina...nós os três...vamos ter que pedir ao Raimundo que esteja sempre vigilante quanto a desvios à regra de conduta e ao porte...quanto a ti, serás o bread winner, como sempre, mas poderás sempre contar com a minha ajuda no book keeping, ou não seja eu a guarda-livros da Companhia Improvável...
Eu sei que ainda é prematuro pensar em planos práticos imediatos, pelo menos nessa fase as coisas estão na tua mão.
Mas isso não me impede de dar umas ideiitas, pois não ? Pois eu sei que tudo depende da configuração do espaço, mas do que queremos e necessitamos, eu sugiro que tenhamos um espaçito reservado à nossa actividades mais íntimas...um armário...que fosse a nossa biblioteca secreta...com um dossier de imagens sugestivas, onde registar actividades...
Bem, é melhor ir antes que me ponha a sonhar e tenha que ir escrever mais um capítulo d´"A Saga de Laura"...hihihi
Tichau
Bjs
Laura
LISBOA, 9 de Dezembro de 2013
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
Laura & Raimundo - alguns dados bibliográficos
Além do já conhecido Manuel Baião Nobre,
as outras duas das Três Pessoas da COMPANHIA IMPROVÁVEL são Laura Borges e Raimundo Vilanova Cabral. Seguem alguns dados bibliográficos.
LAURA BORGES - nasceu em Vila Franca de Xira em 1975. Cedo revelou dotes exibicionistas e provocatórios, mesmo na idade da inocência, e gosto pela moda e pela dança. Sofreu na pele alguns agravos por ser tão leviana, escondeu-se dos meios públicos durante muitos anos.
Leitora compulsiva de mistérios do paranormal, é uma mulher caseira que gosta de actividades domésticas. É tradutora de italiano, e trabalha a partir de casa, onde vive com os seus gatos.
RAIMUNDO VILANOVA CABRAL - 58 anos, filho de um dos homens-bons de Santarém, cedo revelou pendor para assuntos relacionados com a aristocracia e com o poder. Foi levado novo para o Oriente, onde trabalhou no comércio marítimo. Andou pelos Países-Baixos, estudou na Universidade de Leuven, mas não se graduou. Regressado a Lisboa, estabeleceu-se como marchand d´art. Gosta de museus, do período do Renascimento e do Barroco, em particular música polifónica. Detesta gentinha das barracas, tem bom gosto, deseja ascensão social.
O Estado d´A COMPANHIA IMPROVÁVEL
Princípios Gerais, Carta de Projecto e Declaração de Intenções (em construção)
I - A Companhia Improvável é a comunidade-estado, por união pessoal, una e indivisível, das Três Pessoas :
- Manuel Baião Nobre
- Laura Borges
- Raimundo Vilanova Cabral
II - Os Princípios Gerais definem o que é a Companhia, e Carta de Projecto estabelece objectivos e programas.
III - A acção e âmbito da Companhia dividem-se em Três Grandes Planos : o da própria Companhia e do seu Mundo Perfeito, o Político, e o Social.
IV - Estes planos são por sua vez divididos em programas, através de códigos e sistemas próprios, descritos em Memorandos.
V - O sistema de governo da Companhia é a Regência Rotativa. A cada uma das pessoas calha, à vez, a responsabilidade da acção executiva.
VI - Os cargos dos Regedores :
.Manuel Baião Nobre - fonte de rendimentos, académico, redactor principal das Conferências Solitárias, poeta.
.Laura Borges - cortesã, entertainer, investigadora de mistérios do paranormal, futura bibliotecária e camareira da Companhia.
.Raimundo Vilanova Cabral - personagem de índole aristocrática, o "intelligence" da Companhia, escritor de contos e crónicas, investigador e adepto dos Cultos.
VII - A Regência da Companhia emite lei : as Directivas. Na componente legislativa, emite Ordenações.
VIII - Cada um dos regentes é livre de buscar as fontes de lei que mais lhe aprouver.
IX - Além dos Grandes Planos, Político e Social,a Companhia intervém noutras áreas de interesse, como activismo pró-animal e cristão-social.
X - O orgão oficial de comunicação da Companhia é o seu boletim, "O Mensageiro da Meia-Noite".
XI - As vozes de Laura e Raimundo : comunicam através das suas "Cartas", de declarações, aforismos, comentários e crónicas, etc.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
Listas de textos de referência
Há livros que considero indispensáveis enquanto referência. E quando digo referência refiro-me à religião, à moral, à política, à vida em sociedade, e à literatura. São os livros que me fazem reflectir, pela sua importância, mesmo que nem sempre concordo as ideias neles expostas.
Eis uma lista - sempre em crescimento - das obras que acho fundamentais.
RELIGIÃO E FÉ
- A Bíblia (católica)
- O Magistério da Igreja, que inclui a sua Doctrina Social
- Os Princípios Gerais da CVX
- O misterioso Livro de Urantia
MORAL, SOCIEDADE, POLÍTICA
- Os Analectos
- As Meditações, de Marco Aurélio
LITERATURA
- O Conde de Monte Cristo
- Os Lusíadas
- Os Irmãos Karamazov
- The Rubaiyat of Omar Khayyam
- Gulliver´s Travels
- Memórias de Adriano
- As Cidades Invisíveis
Reflexões, 4 - Tudo para todos ? Não.
Na base da retribuição, reside o mérito, e não pouco a vontade e o querer. Nem todos merecem tudo, pois não o desejam nem a superar-se. A evolução só pertence aos que de facto a procuram. "Tudo para todos" é uma aberração, uma forma de tirania que se fundamenta na erradicação da diversidade, na perversão da responsabilidade livre, do talento individual.
Bazar de textos IV - Astroteologia de ponta
"Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigénito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna."
São famosas, as palavras do Evangelho segundo São. João. Numa leitura que faço delas, considero que o Nascimento do Salvador (unindo Deus e a Humanidade, santificando-a) coroa a Criação de Deus. O Homem culmina a ordem natural das coisas e sendo o Advento de Jesus Cristo irrepetível, concluo que seria fútil buscar existência de vida noutros planetas. Cristo, o Deus-Homem, é o centro do Universo, e a Terra é o seu Ponto Fixo.
O Manifesto da Montecristologia - Princípios Gerais, I
A Montecristologia. O que é ? A primeira e mais directa definição é "a Arte e/ou Ciência de Leitura e Interpretação do Homem, da Sociedade, da Vida, do Mundo, do Universo e do Que Mais Houver".
Esta série de textos numerados será o seu manifesto, em que se propõe oferecer :
- um compêndio de moral e justiça
- um código de normas para a sociedade
- uma reflexão sobre a causa das coisas e possivelmente uma explicação
- um programa político
- um manual de navegação pelo rio que é a Vida
- um guia para a literatura e para a arte
//
Como decerto sabeis, eu sou o fundador da Monte-Cristologia, a Ciência e/ou Arte de leitura & interpretação da realidade do Mundo, do Ser Humano e do Universo e do que mais houver, à luz da imortal obra de Alexandre Dumas, père.
À guisa de demonstração da aplicabilidade desta novel theoria, não quero deixar de dar a conhecer ao mundo alguns dos seus inalteráveis princípios e axiomas :
- O Conhecimento humano pode ser condensado em 150 livros.
- É perfeitamente aceitável, até encorajado, conduzir más pessoas a comportamentos auto-destructivos.
- É perfeitamente legítimo enganar os que enganam.
- As relações amorosas entre pessoas do mesmo sexo são aceitáveis, vistas mesmo com simpatia e algum humor, desde que essas pessoas sejam do sexo feminino.
- Ser rico, à falta de melhor adjectivo, é bom.
- A cozinha italiana é a pior do mundo.
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Conferência Solitária II - Bibliotecas Online, livre acesso
http://www.classicreader.com/
https://openlibrary.org/
http://www.gutenberg.org/ - Projecto Gutenberg
http://www.wdl.org/pt/ - World Digital Library
http://ebooks.nypl.org/FF2AAF2A-B4CB-4BB8-8F20-95F773642037/10/257/en/Default.htm
The New York Public Library
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inclui
https://openlibrary.org/
http://www.gutenberg.org/ - Projecto Gutenberg
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The New York Public Library
http://www.bartleby.com/
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The Harvard Classics |
The Shelf of Fiction |
Conferência Solitária I - Studium Generale
Esta conferência dedica-se a registar o meu objectivo e plano de estudo na condição de autodidacta, enquanto não ingresso na universidade (e quiçá mesmo depois dela).
Chamo-lhe Studium Generale, o nome dado às universidades medievais, na convicção de que este método e plano é pouco qualificado/preparado, de acordo com o que diria o sistema, o ensino oficial. É, pois, algo primitivo, medieval ; na escolha dos temas e áreas, principalmente.
Mas que importa isso ? Alguém, para além de mim, se interessa ? Alguém iria ler estas palavras, para examinar esta conferência, para a qualificar, categorizar, no seu núcleo de interesses ? Faço tudo isto para mim, no doloroso prazer da solidão, da satisfação de que posso mandar às malvas quem eu quiser e quando quiser. O Studium Generale é uma das gratificações que tenho em realizar que estou só.
Eis pois as matérias que o compõem :
- Latim
- Alemão
- Problemas de Xadrez
- Música (Guitarra Clássica)
- Desenho
- Programa "Grandes Livros" ( do Cânone Ocidental )
No que diz respeito a avaliação/examinação, há formas de aferir a progressão na aquisição dos conteúdos. Há livros para isso, com provas e as respectivas soluções ; creio que há exames online ; há escolas onde me matricular ; e finalmente - no que toca à Música e ao Desenho, intuitivamente e por ouvido saberei se a coisa está ou não bem feita.
(continua)
Chamo-lhe Studium Generale, o nome dado às universidades medievais, na convicção de que este método e plano é pouco qualificado/preparado, de acordo com o que diria o sistema, o ensino oficial. É, pois, algo primitivo, medieval ; na escolha dos temas e áreas, principalmente.
Mas que importa isso ? Alguém, para além de mim, se interessa ? Alguém iria ler estas palavras, para examinar esta conferência, para a qualificar, categorizar, no seu núcleo de interesses ? Faço tudo isto para mim, no doloroso prazer da solidão, da satisfação de que posso mandar às malvas quem eu quiser e quando quiser. O Studium Generale é uma das gratificações que tenho em realizar que estou só.
Eis pois as matérias que o compõem :
- Latim
- Alemão
- Problemas de Xadrez
- Música (Guitarra Clássica)
- Desenho
- Programa "Grandes Livros" ( do Cânone Ocidental )
No que diz respeito a avaliação/examinação, há formas de aferir a progressão na aquisição dos conteúdos. Há livros para isso, com provas e as respectivas soluções ; creio que há exames online ; há escolas onde me matricular ; e finalmente - no que toca à Música e ao Desenho, intuitivamente e por ouvido saberei se a coisa está ou não bem feita.
(continua)
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
Bazar de textos III - Blues/Fado do Alcoólico
1
Eu era um alcoólico
Não era nada que se veja
A vida era ingovernável
A namorada era a cerveja
REFRÃO :
Sim, eu era um alcoólico
Sem auto-estima nem lisonja
Perdi um emprego fixe
Porque bebia como uma esponja
2
A mulher disse-me um dia
Isto vai acabar mal
Vou-me embora com os putos,
Tu vais parar ao hospital
REFRÃO :
Sim, eu era um alcoólico
Sem auto-estima nem lisonja
Perdi um emprego fixe
Porque bebia como uma esponja
3
Numa noite d´insanidade
Era tão grande a bebedeira
Dei com a tromba no passeio
E parti a cremalheira
REFRÃO :
Sim, eu era um alcoólico
Sem auto-estima nem lisonja
Perdi um emprego fixe
Porque bebia como uma esponja
4
Até eu fiquei cansado
De me vomitar e partir todo
Não posso voltar ao copo
Porque assim é que me fodo
REFRÃO :
Sim, eu era um alcoólico (OH YEAH)
Sem auto-estima nem lisonja
Perdi um emprego fixe
Porque bebia como uma esponja
5
Comecei a ir às salas
Daquela irmandade
Até conheci umas chavalas
Redescobri a felicidade
REFRÃO :
Sim, eu era um alcoólico
Sem auto-estima nem lisonja
Perdi um emprego fixe
Porque bebia como uma esponja
Eu era um alcoólico
Não era nada que se veja
A vida era ingovernável
A namorada era a cerveja
REFRÃO :
Sim, eu era um alcoólico
Sem auto-estima nem lisonja
Perdi um emprego fixe
Porque bebia como uma esponja
2
A mulher disse-me um dia
Isto vai acabar mal
Vou-me embora com os putos,
Tu vais parar ao hospital
REFRÃO :
Sim, eu era um alcoólico
Sem auto-estima nem lisonja
Perdi um emprego fixe
Porque bebia como uma esponja
3
Numa noite d´insanidade
Era tão grande a bebedeira
Dei com a tromba no passeio
E parti a cremalheira
REFRÃO :
Sim, eu era um alcoólico
Sem auto-estima nem lisonja
Perdi um emprego fixe
Porque bebia como uma esponja
4
Até eu fiquei cansado
De me vomitar e partir todo
Não posso voltar ao copo
Porque assim é que me fodo
REFRÃO :
Sim, eu era um alcoólico (OH YEAH)
Sem auto-estima nem lisonja
Perdi um emprego fixe
Porque bebia como uma esponja
5
Comecei a ir às salas
Daquela irmandade
Até conheci umas chavalas
Redescobri a felicidade
REFRÃO :
Sim, eu era um alcoólico
Sem auto-estima nem lisonja
Perdi um emprego fixe
Porque bebia como uma esponja
Poesia X : Minerva me enerva
Ei-los tão bem alinhados
Soldados numa parada
De sabedoria ou nada
E de muitas cores fardados
Em vários discursos lentes,
Eles olham com a frieza
Tão própria da proeza
De fazer-nos sapientes
À noite, às vezes pergunto
Talvez estejam a falar
Bem poderiam partilhar
Qualquer que fosse o assunto
Em palavras parecidas,
Talvez um dia a sonhar
Veja livros a conversar
De maravilhas escondidas
Picando com sua lança
A deusa como louca ri
Pelos livros que nunca li
E deixo-me ir na dança
Poesia IX : Luar de Cemitério
Sei de um jardim palacial
Onde no meio da vereda
Ouves o fru-fru da seda
De um fantasma glacial
Beleza,misteriosa
Eis a mulher de cristal,
Pr´á lém do bem e do mal
É negra a sua rosa
É frio o nevoeiro
Que permeia o labirinto
Viro no quarto ou no quinto?
Ou será no derradeiro?
Num rir sobrenatural,
Diz-me que em todo o frio
É Orfeu que eu recrio
Que tudo vai acabar mal
Era fútil a caçada
De facto assim acontece
Nada é o que parece
E tudo acab´em nada
Bazar de Textos II - Um Dia Daqueles
Jorge detestava muitas coisas, e uma delas era ananás nas pizzas.
"Como é que possível que haja pessoas que gostam mesmo daquilo", registou este vosso repórter quando o visitou no Estabelecimento Prisional de Lisboa, conhecido no mundo do crime, e no nosso, como E.P.L. numa fria tarde de Novembro do mês passado.
"Jorge", comecei assim a entrevista, pelo seu nome, "como veio parar a este síio horrível ?"
"Bem, é uma longa estória..."
"Você só conta o que quiser.."
"Sem dúvida, mas não quero ser "profilizado" desta maneira tão vil...E tenho mais uma exigência a fazer. O interesse é seu, eu estou em posição de fazer as exigências que me apetecer. Você é a minha puta neste momento, aqui & agora."
"Espero que me pague"
"Sim, fique descansado. O que quero é um tabuleiro de xadrez. Enquanto temos tempo..."
Falámos de tudo. Do tempo, de futebol, de carros, mas de mulheres não muito. Ele estava bem informado acerca de temas da actualidade, sabia de tudo pela internet. Era lá que tinha os seus amigos, este pobre diabo, era através do Facebook que exercia ao máximo uma personalidade que era muito sua e que poucos, aparentemente, queriam realmente conhecer. Não trabalhava, acreditava ser uma victima do sistema. Odiava pessoas paranóicas, mas não se reconhecendo a si mesmo como uma. Rapaz de estrictos costumes, espartano nos hábitos, não o reconheceríamos nem nos lembraríamos dele no Metro, tal como ninguém se apercebeu exactamente quando ele entrou na pizzaria com uma navalha tipo "borboleta" na mão.Para ele, foi apenas um daqueles dias."
JN, 2012
JN, 2012
Poesia VIII : Celebração da intempérie - à memória de Henri-Desiré Landru e Jack, o Estripador
Celebração da intempérie
És um assassino em série
Disse bem a tua tia,és um zero a poesia.
Concordata na camarata
Temporal na tua moral,
Foste o Monstro do Cadaval.
O teu almoço era um osso
Uma Ema era um problema.
Constipação no coração,
Melancolia é fantasia,
E a dor tanto purifica
Os Crimes da Estrada de Benfica.
Odiaste o fru-fru
Extraías almas pelo cú
Estrangulavas na Alameda
Com uma meia de seda
Sem nenhum arrependimento,
Tempestade e Sentimento,
Culpado é o frango assado.
10 de Março de 2011
10 de Março de 2011
Poesia VII : A Coroação de Galatea
Passos curtos,atrevidos
Escutei e lá estavas
De falar não precisavas
De carinhos prometidos
Entreguei-me,com devoção,
A tua causa com fervor
Estátua olha teu autor
Senti-me um Pigmalião
Tentei um templo erigir
Acendi paus de incenso
Mas foi de luar intenso
O que fiz p´ra te exprimir
Só contigo é que sei voar
Princesa,iremos fugir
E nunca mais chorar,só rir
No nosso mundo exemplar
Não tens nome nem idade
Na tua doce companhia.
Sem ti eu não viveria
P´ra toda a eternidade
15 de Março de 2011
Poesia VI : Danças Com Deusas
Doce armadilha que seduz
Sem uma palavra dizer,
Senhora serás do meu ser
Para que veja a tua luz.
Para ti eu me desnudo
De sentidos apurados,
Em teus tons apaixonados,
De repente entendo tudo
Rios de tinta podem correr
Sobre a tua epifania
Mas ninguém entenderia
O que o amor pode esconder.
Sem disfarçar o meu tremor,
Tuas carícias invoco
De joelhos me coloco
Pra receber o teu amor
À deriva,no teu enlace
De todo o coração sou teu
Vou alcançar o apogeu
Para que vença,não fracasse
15 de Março de 2011
Poesia V : Salmacis
No teu corpo, uma cascata
Teu cabelo, corredio
Depois, na tua pele de prata,
Um sopro, um arrepio
Tua formosura quase mata,
A minha alma, por um fio.
E entraste nos aposentos
Dos meus simples sentimentos.
.
Secaste o corpo na cama
Com a febril gentileza
De quem não apaga a chama
Da visão da tua beleza.
Não troces pois de quem te ama
Com tanto orgulho e pobreza.
E ostentas, de fina veste,
A sedução que prometeste.
.
A minha mão é assim tua
E do teu templo sou pilar
Para pelas eras suportar
A ninfa banhando-se nua.
JN/2012
Poesia IV : Ser Selvagem
Teu antílope eu serei
Tu serás minha gazela
Pinta-me na tua tela
Cores que não esquecerei
Cinza, preto e cor do mel
Nos castanhos da savana
O teu amor não engana
Está colado à minha pele
Nem sempre é evidente
Mas o amor nos fundiu
Para sempre nos uniu
Pintado a reluzente
É estilete a tua ausência
Que meu coração trespassa
Vou mostrar a minha raça
Por amor à transparência
É pungente o formigueiro
Da tua antecipação
Iremos pois de mão em mão
Conquistar o Mundo inteiro!
Bazar de textos I - Algumas reflexões para uma democracia deliberativa popular de salvação nacional
Os partidos com assento parlamentar, os mesmos que controllam o poder legislativo, o Estado e a administração pública, devem ser banidos d´a actividade política e as relações entre elles e os agentes económicos deverão ser revistas, reformuladas, e as suspeitas de mal-practica deverão ser investigadas por entidades pessoais & colectivas insuspeitas e isemptas.
Deveria ser dada aos restantes partidos d´o espectro político nacional a possibilidade de criar uma plataforma de entendimento baseada n´o mínimo denominador commum da antítese d´aquilo que tem sido feito até agora na vida e n´a arte da governação. A sua ausência das estructuras d´o poder seria o garante d´a sua oportunidade, perante a qual se obrigariam a um voto e compromisso de honra de dedicação única e exclusiva à boa e justa governação d´o País.
Uma outra alternativa seria a devolução imediata d´o poder deliberativo à Nação, directamente, através d´a instituição de assembleias/camaras deliberativas populares ao nível d´a freguesia e da câmara municipal por meio d´a democracia directa e p´lo consenso, retendo a administração central o poder executivo conferido de baixo para cima, p´los representantes directos e mais próximos d´o povo, p´la sua affirmação – de que jamais abdicaria d´o poder de questionar de forma incisiva e directa as acções d´os seus eleitos.
Um orgão consultivo composto precisamente d´essas entidades pessoais e colectivas insuspeitas e isemptas actuaria como conselho de peritos n´as diversas áreas d´a governação, auscultando todos os sectores d´a sociedade. Poderia ser dada a alguns políticos arrependidos a chance de collaborar com o projecto de salvação nacional, em troca do salário mínimo nacional, em áreas technicas especificas. As despesas d´os orgãos publicos seriam sujeitas a rigoroso scrutinio por parte d´as camaras deliberativas populares a ellas afectas.
Um plebiscito deveria ser realizado, dando à Nação a escolha entre o retorno à Monarchia Constitucional, ou permanência n´a república - mas desta vez com uma presidência colegial de 3 elementos em mandatos de 3 anos. Seria vital que a presidência, a ser sustida, não mais voltasse a ser ocupada por um indivíduo, e muito menos por um político de carreira. Monarcha, ou presidência colectiva, actuariam activamente, como árbitros em disputas entre as instituições.
A opção da regionalização/federalização do país seria de novo colocada n´a mesa, apesar de a história e tradição nacionais serem marcadamente municipalistas ; p´lo que outra opção passaria pela instituição de um parlamento constituído p´los representantes de todas as autarchias d´o país, com peso institucional igual entre si. D´esta forma, da base para o topo, todos os portuguezes estariam representados. O voto seria obrigatorio.
Todas os direitos, liberdades e garantias actualmente existentes seriam preservados. Mas as centrais sindicais teriam que ser extirpadas d´as suas conotações partidárias actualmente existentes. Não sendo retirado ao povo o direito de associação profissional, obviamente, mas a ideia seria des-politizar as relações entre classes, assim eliminando ou reduzindo ao máximo os conflictos entre ellas.
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